«Este dicionário surge da necessidade de consulta de um dicionário português-árabe que não existia» – afirmam Abdeljelil Larbi e Délio Próspero, autores desta obra publicada pelas edições Colibri, com apoio da fundação tunisina Almadanya, em dezembro de 2022. E assim é de facto, a respeito de recursos para o estudo do árabe, com o qual, no entanto, o português manteve profundas relações quer na Idade Média quer no período da expansão quinhentista, testemunhadas no léxico comum e na toponímia.
No Brasil, em grande parte pela razão de neste país haver importantes comunidades com origem no Líbano e na Síria1, podem encontrar-se publicações mais e menos recentes – por exemplo, o Dicionário Árabe-Português (1986), de Alphonse Nagib Sabbagh, o Dicionário Árabe-Português (2000), de Helmi Mohamed Ibraim Nasrou e, com propósitos muito práticos, o Dicionário Português/Árabe e Árabe/Portugues (2008), de Omar Fayad –, a verdade é que em Portugal dicificimente se conseguia até agora identificar dicionários bilingues com idêntico fôlego e acessibilidade.
A estrutura deste dicionário é muito simples: depois de uma nota introdutória «Aos utilizadores», segue-se a descrição da organização da obra, mais duas páginas de abreviaturas (gramaticais e marcas de uso relativas a diferentes domínios de atividade e conhecimento) a que se associam duas tabelas: uma que contêm a lista dos números indianos, ainda usados em árabe, a par dos chamados algarismos árabes; e uma tabela que exibe todo o alfabeto, com os nomes das letras e as suas diferentes formas de ligação, acompanhadas de transliteração latina. Segue-se o dicionário propriamente dito, que compreende, como assinalam os autores, «16 600 entradas, com mais de 6800 segundas entradas e com 16 100 exemplos, não só devidamente escolhidos como privilegiando os temas e tempos atuais». Uma lista dos numerais quantificadores (cardinais), apresentados por extenso, remata o livro.
É, portanto, de uma obra pioneira em Portugal que se trata, que, espera-se, terá um longo caminho para se aperfeiçoar e alargar-se. Cria também a expetativa do aparecimento de um dicionário árabe-português, empreendimento que não se antevê fácil, dadas as profundas diferenças existentes entre o método lexicográfico árabe e o das línguas ocidentais. Mesmo assim, este dicionário constitui um lançamento entusiasmante, porque há um legado árabe no português que há muito aguarda a devida compreensão.
1 Murilo Sebe Bon Meihy, "Arabia Brasiliensis”: Os estudos árabes e islâmicos no Brasil", Islamic and Jewish Studies, 1, 2014 (em linha).
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