Num programa da manhã da Rádio Comercial, discutia-se como se define um grupo. Afirmava-se que duas pessoas não constituíam um grupo e que era necessário referir pelo menos três pessoas para usar a palavra com propriedade. Será esta definição adequada no contexto da linguagem mais corrente? Analise-se o que dizem os dicionários acerca de grupo.
Este substantivo, que chegou até nós por via do italiano – gruppo, «grupo escultórico; reunião de seres ou coisas em conjunto» –, com provável origem no germânico kruppa (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa), é definido como «conjunto de pessoas ou coisas que constituem um todo = agrupamento, conjunto» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). Nesta definição, assim como noutros tantos dicionários – «conjunto de pessoas ou objetos perto uns dos outros formando um todo» (Dicionário Aulete), «conjunto de pessoas ou objetos, tomados como constituindo um todo ou uma unidade» (Infopédia), «conjunto de pessoas ou coisas dispostas proximamente e formando um todo» (Dicionário Houaiss) –, nada nos indica como obrigatória a condição de existirem mais de dois elementos para se formar um grupo. A verdade é que «o todo» pode ser formado por dois elementos, pelo que um par ser considerado um grupo, satisfazendo as definições citadas. Quem nunca, nos tempos de escola, fez trabalhos de grupo, havendo grupos de dois elementos?
Pode observar-se, é certo, que para definirmos um grupo de duas pessoas temos o termo par (do latim pare-). Os dicionários, de facto, legitimam esta afirmação: «conjunto de duas pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea). Mas, olhando para a palavra, em que medida par não será também um grupo, visto que ambos os vocábulos se referem a um conjunto de pessoas ou objetos que no seu todo são constituídos por dois elementos? Esta relação de sinonímia está atestada no seguinte exemplo, retirado de um texto legislativo: «As disciplinas de Iniciação à Prática Vocal e de Prática Vocal, do Curso Básico de Canto Gregoriano, são lecionadas a grupos de dois a cinco alunos [...]? (Portaria n.º 223-A/2018, Diário da República n.º 149/2018, 1º Suplemento, Série I de 2018-08-03, páginas 2 - 23). Infere-se, portanto, que par é sinónimo de «grupo de dois», enquanto grupo é termo mais genérico que abrange a significação de par – por outras palavras, grupo é hiperónimo de par, e este é hipónimo daquele.
No entanto, intuitivamente, parece estranho que se chame grupo a um par. Porque será? O Corpus do Português pode sugerir uma explicação: quem procure a associação de grupo com dois verificará que a pesquisa não faculta nenhuma ocorrência; mas recolhem-se sem dificuldade exemplos de «grupo de três», «grupo de quatro», «grupo de cinco», etc. Os resultados parecem, portanto, apontar para o uso de grupo em referência a conjuntos iguais ou superiores a três elementos.
Em síntese, a plalavra par pode ser definida como «grupo de dois». Contudo, a força do uso parece inibir os falantes de designarem um conjunto de dois elementos pela palavra grupo.