Aqueles que andam à procura de casa em Portugal, especialmente imóveis com áreas exteriores onde se possa construir uma piscina, talvez tenham notado uma expressão curiosa nos anúncios imobiliários. Algumas agências, principalmente em plataformas em linha, descrevem terrenos com frases como «O terreno de 416 m² é piscinável». Este termo, piscinável, desperta a atenção, não só pela novidade, como pela formação do mesmo. Embora não esteja dicionarizado, o uso frequente em anúncios sugere que o mercado imobiliário o adotou para comunicar de maneira económica uma característica muito valorizada por potenciais compradores: a existência de um terreno apto para a construção de uma piscina.
A formação de piscinável partirá de um substantivo, piscina, ao qual foi acrescentado o sufixo nominal de origem latina -vel, tradicionalmente usado para formar adjetivos a partir de verbos, que traduz a ideia de «suscetível de», como desejável («que pode ser desejado; possível de ser desejado») ou aplicável («que pode ser aplicado»). De facto, segundo o Dicionário Houaiss, o sufixo -vel costuma ser usado para formar adjetivos a partir de verbos, criando o que chamamos de adjetivos deverbais, como desejável (desejar + -ável) ou aplicável (aplicar + -vel). No entanto, aqui, o sufixo parece associado diretamente a um nome – piscina –, o que quebra o padrão típico da língua portuguesa.
Esta particularidade leva a pensar que, na realidade, piscinável pressupõe um verbo, piscinar, assim permitindo seguir a lógica de outros verbos derivados de substantivos. O verbo piscinar não é reconhecido nos dicionários de português, mas a criação de verbos a partir de substantivos é algo que ocorre naturalmente na evolução de uma língua – veja-se telefonar, por exemplo: telefone + ar. Se quisermos seguir este processo de derivação – a conversão de telefone em verbo acarretando a adoção da configuração de o infinitivo dos verbos da 1.ª conjugaçao –, não se afigura impossível a existência do verbo piscinar a partir do nome piscina, o qual poderá significar algo como «construir uma piscina», «passar tempo na piscina» ou «nadar numa piscina».
Embora o verbo assim pressuposto não tenha registo dicionarístico e exista virtualmente, reconheça-se que o termo piscinável se revela económico no contexto em que é utilizado, servindo para comunicar de forma direta o potencial do terreno de um imóvel. No setor imobiliário, onde o objetivo é destacar a funcionalidade e o potencial de um espaço, palavras como piscinável simplificam a comunicação e facilitam o entendimento pelo público.
Apesar de não seguir os moldes linguísticos tradicionais, para descontentamento dos mais ciosos da qualidade da língua, o adjetivo piscinável é, portanto, de fácil interpretação e cumpre o seu papel de maneira eficiente. É um neologismo que afirma a capacidade de a língua evoluir para atender às necessidades práticas da vida quotidiana, mantendo sempre a sua clareza e eficácia.