O uso do almofariz, enquanto instrumento de trabalho, perde-se nos tempos e nos espaços.
Este instrumento recebe designações específicas conforme os seus mais diversos contextos no mundo. Por exemplo, em árabe é designado por al-mihrās em espanhol é o mortero e almirez; em francês é o mortier, em inglês é o mortar.
A origem da sua utilização é imprecisa no tempo e no espaço. Contudo, sabe-se que o seu uso é identificado no conjunto dos artefactos do homem primitivo.
De igual forma, conhece-se o seu uso designadamente no Antigo Egipto ou pelos Sumérios, Hebreus, Gregos ou Romanos.
Inicialmente, os almofarizes apresentavam uma configuração muito tosca e grosseira, constituídos por placas de pedra, por buracos escavados nas rochas, ou com pedras e barro.
Se no Antigo Egipto, os almofarizes (e o pilão ou mão) eram feitos de pedra, noutras civilizações os materiais utilizados foram a madeira, o chumbo, o estanho e o bronze. Mais recentemente, os materiais utilizados foram a porcelana ou o vidro.
Porém, como é evidenciado pelo acervo e relatos históricos, não houve alterações significativas na morfologia dos almofarizes, desde as civilizações clássicas, passando pela Idade Média e sociedade moderna até aos nossos dias.
A função do almofariz (e do respectivo pilão) foi sempre muito diversificada e permanente ao longo dos tempos e das comunidades, ajustando, por isso, as necessidades humanas aos recursos gerais disponíveis. Não se limitando à preparação de compostos medicinais, foi usado, também, na preparação de farinhas e pastas usadas na alimentação ou na preparação de pigmentos para a pintura e outros tipos de tecnologias e formas de coloração. Sublinha-se a sua especial utilização na trituração de raízes, de ervas secas, de rizomas e de outros materiais.
A partir do século XV, regista-se a utilização generalizada dos almofarizes de bronze, especialmente no âmbito da alquimia, tendo em conta quer a sua composição mais resistente (face aos tradicionais almofarizes feitos em argila), por serem fundidos, quer a sua configuração onde as alças e as bicas facilitavam o despejo dos materiais.
No final do século XVII, surgem os almofarizes de porcelana esmaltada e de vidro fundido. Estas novas configurações apresentavam-se como mais adequadas face ao seu progressivo uso com produtos químicos, não sendo danificados, ou mesmo pela facilidade da sua limpeza.
Estes instrumentos de trabalho podem ser vistos em muitos museus (quase sempre na secção de arqueologia), onde se mostram exemplares das suas diferentes configurações ao longo dos tempos e há informação sobre os respectivos enquadramentos históricos e geográficos.
Texto-apresentação da exposição O Almofariz – no tempo e nos espaços, da coleção de José Augusto Barroso, patente na Biblioteca Municipal Luís de Camões, em Alvito, de 5 de março a 5 de abril de 2022. Escrito segundo a norma ortográfica de 1945.