«Máxima eficácia, mínima perturbação». É este o lema do Governo que serve de quadro de boas intenções às medidas que vão sendo tomadas no combate à pandemia.
Uma escala graduada que procura atingir em simultâneo o nível máximo de uma realidade e o nível mínimo de outra. A imagem que se evoca é a do rigor de uma balança, com um prato erguido ao nível mais alto e outro reduzido ao nível mais baixo. No prato mais baixo, e, portanto, mais pesado, fica a eficácia, que evoca a capacidade de produzir determinado efeito esperado: a máxima eficácia visa o mínimo de infeções. No prato mais alto, porque muito leve, quer-se a perturbação, que corresponde à agitação que prejudica o equilíbrio e o funcionamento do sistema. Com a mínima perturbação procura-se a máxima normalidade.
Mas será possível juntar todos estes pontos num só momento? A máxima eficácia na redução ao mínimo das infeções combinada com um mínimo de perturbação para atingir o máximo de normalidade? Só a formulação de todas estas combinações já parece paradoxal e os paradoxos são difíceis de concretizar. E, na verdade, embora a eficácia não queira perturbar, o que é real é que usar máscara sempre perturba, fechar o comércio perturba, confinar perturba. Mas esta é a perturbação necessária para garantir a eficácia. Afinal, quando defende a mínima perturbação, o Governo quererá dizer «a mínima perturbação possível», o que significa que vai existir muita perturbação.
O Governo não tem, afinal, uma balança equilibrada e afinada, porque quanto mais se aumenta a eficácia, maior será também o peso da perturbação.
Por tudo isto, o verdadeiro lema deste contexto que se vive só poderia ser «máxima eficácia hoje para mínima perturbação amanhã.»
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Carla Marques - Máxima eficácia]
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 29 de novembro de 2020.