A forma como a estrutura passiva é ensinada e tratada em aulas de português como língua estrangeira (PLE) difere, em certa medida, das caraterísticas dos professores, do contexto de ensino (por exemplo, dinâmica da instituição de ensino) e do modo como os conteúdos são explicitados nos materiais utilizados, entre os quais se encontram os manuais. Estes materiais usam várias estratégias para demonstrar as transformações ocorridas ao nível da diátese (mudança de lugar dos constituintes e transformação do verbo); contudo, a maneira como é apresentada e descrita esta situação nas diferentes ferramentas didáticas pode variar.
A grande maioria dos manuais de PLE adota a estratégia de introduzir o tema em estudo através de textos, desde recortes de jornais a diálogos, permitindo que o aprendente contacte com diferentes situações de utilização da estrutura que está a aprender. Regra geral, as estruturas gramaticais são destacadas nos textos introdutórios e, posteriormente, são apresentadas de forma detalhada. Na apresentação da estrutura passiva em manuais de PLE, observa-se uma preocupação em explicar e didatizar as principais mudanças sintáticas ocorridas na passagem da frase ativa para a frase passiva com recurso a exercícios de vários tipos.
No que concerne à descrição dos tipos de passivas, grande parte dos manuais destaca a passiva de ação (designada na terminologia especializada por eventiva, p. ex.: «A maçã foi comida pelo João.»), a passiva de estado (designada também de passiva estativa, p. ex.: «A maçã está comida.») e a passiva com -se (também chamada de passiva pronominal, p. ex.: «Vendem-se casas.»), notando-se ausência na referência à passiva resultativa (construção que ocorre tipicamente com o verbo auxiliar ficar, p. ex.: «A maça ficou comida.»). A omissão desta estrutura dos manuais de PLE pode, de alguma forma, criar problemas na aprendizagem dos tipos de frase passiva, uma vez que, se o professor não estiver ciente de como expor e trabalhar em sala de aula as características desta estrutura e a forma de como se relaciona com as outras, o conhecimento do aprendente no que toca às diferentes formas de exprimir diátese passiva fica deficitário, podendo colocar em causa o seu bom uso nas situações apropriadas.
Outro problema da abordagem da estrutura passiva em manuais de PLE é o desequilíbrio em termos de extensão, detalhe e profundidade da explicação das passivas de ação e estado em relação à passiva com -se. A abordagem das primeiras é muito mais profunda que a da segunda, o que faz com que seja o professor a ter de, uma vez mais, criar estratégias de didatização em sala de aula que procurem alertar o aprendente para as diferenças entre passiva com -se, estruturas reflexas e recíprocas (p. ex.: «Ela lavou-se em casa.») e ainda estruturas de sujeito indeterminado (p. ex.: «Vive-se aqui bem.»).
Resumidamente, o manual enquanto instrumento potenciador do desenvolvimento de competências do aprendente e guia de informação científica e pedagógica para o professor deve ser pensado de forma mais abrangente possível. Não obstante, os manuais de PLE nem sempre apresentam descrições de certas estruturas gramaticais que parecem bastante correntes, como é o caso dos vários tipos de frase passiva.
Manuais consultados:
Oliveira, C., Coelho, L., Ballamann, M., Aprender Português 2. Texto Editores.
Oliveira, C., Coelho, L., Português em Foco 2. LIDEL.
Oliveira, C., Coelho, L., Gramática Aplicada - Português para Estrangeiros. Níveis A1, A2, B1. Texto Editores.
Coimbra, I., Coimbra O., Gramática Ativa 1. LIDEL.
Ver também "A estrutura passiva em português".