« (...) Neste particular, sei do que falo por experiência própria. Todos os dias nos últimos anos tenho feito a revisão de textos escritos por pessoas entre os vinte e poucos e os quarenta e muitos e sei bem o que eles não sabem sobre a nossa língua portuguesa. (...) »
Passarão a ser três, com Português obrigatório, e os seus resultados terão uma ponderação de 25% na nota global de acesso, dizia o Jornal de Notícias [no dia 7 /02/2023} e eu acredito.
Não sou especialista no tema, mas como milhões de portugueses tenho uma opinião sobre o assunto na ótica do utilizador, em termos de cidadania. Nessa posição, mais confortável do que a de quem tem de decidir, penso que a solução encontrada é razoável e permito-me enaltecer o facto de o Português ser obrigatoriamente um dos exames a fazer.
Mesmo para os que não adoram o conceito de pátria, é cada vez mais urgente perceber que a nossa pátria é a língua portuguesa, como dizia o poeta. Depois dos três D que a Revolução do 25 de Abril disseminou, a descolonização, a democratização e o desenvolvimento (este D sempre working in process...), a que acrescentaria a globalização acelerada das últimas décadas, se há um lugar onde a língua portuguesa tem que ser defendida é mesmo aqui. Em Portugal. Nas escolas portuguesas. Defendida e ensinada. Porque defender a língua é sobretudo ensiná-la.
Não faz nenhum sentido, nem dá qualquer resultado, querer muito que a nossa língua seja falada e entendida em todo o Mundo, se não começamos a tratar disso desde logo aqui. Sem fazermos os trabalhos de casa.
Se as novas gerações (e as pessoas que tanto gostam de aderir a todas as novas modas sem o mínimo espírito crítico) julgam que o corretor faz milagres e dispensam o sacrifício de bem aprender a bem escrever, podem ficar a saber que estão profundamente enganadas.
Neste particular, sei do que falo por experiência própria. Todos os dias nos últimos anos tenho feito a revisão de textos escritos por pessoas entre os vinte e poucos e os quarenta e muitos e sei bem o que eles não sabem sobre a nossa língua portuguesa.
Também sei que vivemos um tempo em que ninguém gosta de ser obrigado a fazer nada desde muito novo, mas se pudermos abrir uma exceção para essa obrigação de sabermos um bocadinho mais sobre a nossa língua, ninguém há de morrer por isso.
Nem de tédio, espero eu.
Artigo da autoria do cronista português Manuel Serrão, transcrito, com a devida vénia, do Jornal de Notícias doo dia 8 de fevereiro de 2023.