«A verdade é que o sucesso nas provas está muito mais ligado ao esforço feito ao longo do ano do que ao que é feito na véspera.»
Faltam poucos dias para os exames nacionais, que arrancam a 17 de Junho. Durante a contagem decrescente, muitos estudantes podem ficar nervosos e ansiosos. Mas não é hora de pânico. Agora, é respirar fundo, controlar o apetite e regular o sono. Sem exagerar nem descurar, a dica é seguir firme com os estudos.
Em conversa com o P3, duas professoras, uma nutricionista, uma pedopsiquiatra e um “superaluno” (que tem uma média alta) deixam vários conselhos e recomendações para te ajudarem a passar por estas semanas de uma forma mais tranquila e organizada.
A recta final
A verdade é que o sucesso nas provas está muito mais ligado ao esforço feito ao longo do ano do que ao que é feito na véspera. Apesar disso, Ana Gomes, professora das áreas das Ciências e Matemática do centro de estudos 3ponto14, afirma que na recta final dos exames deve ter-se «muito foco». «Quanto mais exercícios fizerem, quanto mais direccionarem o estudo para as perguntas-tipo de exames, mais à vontade se sentem no momento de responder», aponta.
Assim, para ser mais “eficiente”, a professora aconselha que os alunos façam «um plano do que é preciso estudar das matérias em que se sentem mais à vontade» e das que sentem mais dificuldades, mas alerta: «Não adianta estudar muito.» Ou seja, nada de directas ou longas horas de estudo. O ideal, neste momento, é estudar quatro horas por dia, «duas horas de manhã e outras duas horas de tarde», diz Joana Carvalho, professora de Matemática e Inglês do mesmo centro de estudos. «Se forem quatro horas muito produtivas, óptimo.»
João Oliveira, aluno do 11.º ano, conta que, apesar da média alta (19,14), não estuda «muito tempo»: duas horas por dia quando tem as tardes livres durante a semana e quatro horas por dia ao fim-de-semana. «Nós precisamos de estudar e alcançar os nossos objectivos, mas também precisamos de muito descanso», frisa o estudante, que almeja tirar Bioengenharia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Entre as horas de trabalho, a nutricionista Lia Correia recomenda um intervalo de 30 minutos para «preparar um lanche» e descansar os olhos «fora de ecrãs, virados para a janela» e a apanhar sol, se possível. Como sugestão de snack, a especialista recomenda «uma peça de fruta ou vegetal, um lacticínio e um hidrato de carbono», de preferência que não seja ultra processado. Como sugestão, panquecas de aveia e banana ou palitos de cenoura e tostas com hummus.
Além disso, por estes dias é importante que os alunos tirem todas as dúvidas que ainda restam e, para isso, Ana Gomes sugere procurar «um centro de estudos, um professor, outros amigos que já tiveram a experiência de passar pelos exames» — ou até mesmo criar um grupo de estudos. «Ajudarem-se uns aos outros acaba por ajudar cada um a aprender e isso é uma forma de lazer, estudando», afirma.
Sem culpas (nem desculpas)
Deixar matéria para a última hora não é apropriado, mas pode acontecer. «Devem persistir ainda mais e tirar os pensamentos negativos, o sentimento de culpa, manter a mente positiva, começar a estudar e dar tudo», afirma Joana Carvalho.
Para Ana Gomes, a primeira coisa a fazer «é gerir a expectativa». «Eu não vou deixar tudo para cima da hora e depois querer um 20 no exame», começa por dizer. Depois, é preciso «perceber o que é que o aluno precisa» para, assim, conseguir «direccionar o estudo» e canalizar as energias «para um assunto em particular que tenha mais peso».
Alimentação = foco
«Tendo em vista que estudar queima bastantes calorias», a alimentação é outra componente importante na equação para ter bons resultados. Assim, durante a época de preparação para os exames é recomendado manter uma dieta equilibrada e «comer sempre em intervalos de no máximo três horas», para evitar a hipoglicemia. Lia Correia sugere «comer um bocadinho de tudo todos os dias», nas variedades e quantidades certas. «Se fizerem um ajuste, equilibrarem a alimentação e variarem os alimentos dentro de cada grupo, é o que precisam para conseguir estudar», garante.
Além disso, a nutricionista chama a atenção para o consumo de peixes gordos – como sardinha, salmão, atum –, manteiga de frutos gordos (amendoim e amêndoas, por exemplo), sem deixar de lado as «frutas e vegetais, para terem muitas vitaminas e para o cérebro funcionar em potência máxima».
Beber água também é essencial. «Muitas vezes, nós achamos que temos fome, dói-nos a cabeça ou já estamos desconcentrados» e isso acontece «porque estamos desidratados». Para contornar isto, a regra é ingerir, no mínimo, 1,5 litros de água por dia e «beber antes de ter sede, porque se tivermos sede é sinal de que já estamos desidratados». Como alternativa, a nutricionista indica chás sem açúcar, mas põe de parte os sumos, quer sejam naturais ou não, pois «acabam por ser uma bomba de açúcar que depois só vai levar à desconcentração».
Quanto ao café, Lia Correia frisa que o ideal são três por dia e desaconselha as bebidas energéticas. «Cafeína em excesso vai aumentar o nervosismo, a ansiedade e não quer dizer que vá aumentar a concentração», reforça. «É preferível terem uma boa noite de descanso e estudar durante o dia.»
Mente sã, corpo são
«Estou um bocadinho stressado e ansioso com o que vai acontecer e com o que vai sair no exame», revela João Oliveira. Nesta fase, em que a preocupação é muita e o tempo é pouco, pode ser difícil controlar os nervos. Assim, arranjar tempo para as outras coisas que não os estudos é muito importante. Para ajudar a relaxar, Joana Carvalho recomenda «descansar, dormir bem, praticar exercício físico» e incentiva práticas como ioga, meditação e mindfulness, «que valorizam o bem-estar e a concentração» e ajudam a combater o stress e a ansiedade. «Se a cabeça estiver bem e se o corpo estiver bem, o resto aparece», completa Ana Gomes.
O grande dia
Para se sair bem no dia, a preparação deve começar na véspera. Por isso, no dia anterior é para desacelerar, tendo em conta que exageros de última hora «podem ser contraproducentes e provocar mais ansiedade», como indica a pedopsiquiatra Margarida Crujo. Também é essencial garantir que «comeram a cada três horas, não saltaram refeições, fizeram um dia alimentar equilibrado e não vão para a cama com fome», diz Lia Correia. A nutricionista recomenda, ainda, «uma ceia antes de dormir» para não «passarem mais de oito horas em jejum».
Já no dia do exame, o ideal é evitar as «pequenas distracções que podem prejudicar na hora” de fazer a prova. Nesse sentido, Joana Carvalho sugere que os alunos acordem com antecedência, tomem o pequeno-almoço com calma e levem roupas confortáveis. Como ideia para o pequeno-almoço, Lia Correia indica um copo de leite simples, sem adição de achocolatados, uma fatia de queijo e um pão escuro. Outra boa opção é «um iogurte com aveia, uma colher de chá de manteiga de amendoim e uma peça de fruta».
Manter o pensamento positivo é igualmente importante. «Antes de sair de casa, olhem para o espelho e digam "eu vou conseguir", "eu sou capaz", "vai correr tudo bem"», sublinha Ana Gomes.
E se, na «hora H», der uma branca? Nada de desespero. O truque é «respirar fundo, tentar relativizar, pensar que é apenas uma folha e começar pelos exercícios que saibam resolver melhor e deixar para o fim o que for mais difícil», recomenda Margarida Crujo.
Mas se não correr como esperado, «em último caso, repete-se». «É um teste, um desafio, mas acima de tudo não é determinante para a vida de uma forma geral», frisa a pedopsiquiatra, antes de acrescentar: «Uma prova não deve ser mais valiosa do que a própria saúde mental.»