Responder certo dá pontos. Responder certo com muitos erros também. Nos exames de Português do 9.º ano de 2006 [em Portugal], os critérios de avaliação determinaram que, nos grupos de questões em que a expressão escrita era classificada, um aluno que produzisse um discurso «com muitas insuficiências nos planos ortográfico, lexical, morfológico e sintáctico» pudesse obter dois pontos em cinco possíveis. Depois de criticarem o sistema de avaliação das provas de aferição do 4.º e do 6.º anos, os professores viram-se agora para os exames. E alertam: «Estamos a falar da língua materna.»
Os professores temem que este sistema de avaliação «possa levar um aluno a chegar ao ensino secundário sem saber escrever português». Para Arminda Bragança, professora de Línguas e dirigente da Federação dos Sindicatos da Educação (FNE), «não é tolerável que os miúdos cheguem ao 9.º ano a dar os erros que dão e a não saberem fazer uma construção frásica». Por isso, «não se pode permitir que um aluno que responda com palavras soltas sem fazer uma construção frásica aceitável possa ter cotação na pergunta».
Também para Mário Nogueira, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), «é extremamente preocupante a dificuldade de escrita» com que os alunos chegam ao secundário. O dirigente não tem dúvidas «de que a penalização deve existir quando há erros».
O que aconteceu nos exames do ano passado foi que os alunos que respondessem correctamente às questões de interpretação do texto, mesmo que tivessem um discurso «com muitas insuficiências nos planos ortográfico, lexical, morfológico e sintáctico», eram pontuados. «Há técnicas para separar a avaliação de competências, mas não me parece que não penalizar erros seja a solução», diz Arminda Bragança. «E sabemos que a maioria dos professores pensa assim.» O DN contactou o Ministério da Educação para obter um esclarecimento sobre a matéria – e perceber se os critérios de avaliação dos exames deste ano serão os mesmos –, mas o porta-voz da tutela remeteu uma explicação para hoje.
Ontem, reagindo à polémica da não penalização de erros ortográficos nas provas de aferição de Português do 4.º e 6.º anos, a ministra da Educação esclareceu ter afirmado ao presidente da República que espera poder repetir as provas de aferição no próximo ano. E garantiu que os erros ortográficos são considerados.
Como? Segundo a detentora da pasta da Educação, há «uma técnica que distingue a avaliação de competências de leitura e de interpretação». A mesma técnica que, em declarações ao DN, o presidente da Associação de Professores de Português, Paulo Feytor Pinto, afirmou ter dúvida de que fosse a «ideal», sugerindo a «escolha múltipla» como solução.
Falando aos jornalistas à margem da sessão de balanço do primeiro ano do Plano Nacional de Leitura, Maria de Lurdes Rodrigues reafirmou ainda a confiança nas provas: «Falei com o presidente da República no primeiro dia de realização dos exames de aferição e fiz-lhe um balanço positivo, pois foi a maior operação de provas externas realizada pela primeira vez na história do nosso ensino.» Na terça-feira, Cavaco tinha adiantado que a ministra lhe tinha dito que «no futuro, [as provas] poderão, com base nas conclusões [das deste ano], evoluir noutro sentido».
Lurdes Rodrigues acrescentou ainda ter dito que ainda é necessário «concluir a correcção das provas de aferição, analisar os resultados, devolvê-los aos professores e obter o feedback dos professores».
In Diário de Notícias de 31 de Maio de 2007