Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Controvérsias
Polémicas em torno de questões linguísticas.

Com o distanciamento próprio dos verdadeiramente sábios, o Prof. Neves Henriques coloca a questão das aspas do holocausto no seu devido lugar gramatical. Não há nada a acrescentar do ponto de vista linguístico àquilo que ele, com a sua habitual competência, defende.

Vários comentários se podem fazer sobre o vocábulo holocausto. Vamos ao que parece que interessa:

1 - É uma palavra da linguagem bíblica, onde aparece umas 500 vezes no Velho Testamento. No Novo Testamento, aparece umas quatro.

2 - Era um sacrifício oferecido pelos judeus a Deus, no qual a vítima (um animal) era inteiramente consumido pelo fogo.

3 - Depois o vocábulo holocausto estendeu-se aos seres humanos, na situação do nosso bem conhecido auto-de-fé.

O caminho que vai do erro à norma é longo e irregular, tão longo e irregular como a história dos povos.

No sistema não unitário que é uma língua, entrecruzam-se diversos subsistemas resultantes de situações sociais, históricas, culturais e geográficas também diversas.

Lindley Cintra e Celso Cunha, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, distinguem «três tipos de diferenças internas que podem ser mais ou menos profundas:

O facto de presidenta ser o feminino de presidente não quer dizer que nos vejamos obrigados a empregar a forma feminina. Cada um fará como lhe agradar. E não é por os dicionários registarem presidenta que nos veremos obrigados a empregar tal palavra. Lembremo-nos, até, do seguinte: Há muitas e muitas formas femininas que os dicionários não mencionam: professora, advogada, aluna, empregada, enfermeira, etc.

Por Mário César Borges d´Abreu

Vivi em Angola até 1955 e quem faz a língua é o povo... Sempre ouvi (rádio) e vi escrito em todas as publicações angolanas (jornais, revistas, livros, etc.) imbondeiro, tal como Ana Paula Almeida (cf. Embondeiro, in Respostas Anteriores). Autóctones e não autóctones, todos escreviam e diziam imbondeiro.

O facto de eu afirmar que a grafia oficial é embondeiro, justificada pelo notável foneticista Gonçalves Viana pela sua origem africana, não quer dizer que não haja dicionarizada a variante imbondeiro (p.ex., de facto, na "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira"). Embora respeite muito a grande competência do professor e poliglota Artur Bivar, neste ponto vale mais para mim a de Gonçalves Viana, o maior linguista português até a data. Para contrapor ao "D...

1- É claro que podemos formar várias palavras como gentílicos de Torres Vedras: torreenses, torrienses, torrianos, torresãos, etc. Mas o que interessa é outra coisa: é ver qual a forma preferível. Para isso não é preciso comentar, discorrer e tomar posição, porque temos uma ortografia que foi estabelecida em 1945. Basta, pois, consultar um dicionário - todos eles, a partir daquela data, registam as palavras seguindo essa ortografia. Vemos, pois, que esse gentílico se deve escrever assi...

(…) Designando os naturais de Torres Vedras podemos escrever torreenses, torrienses, torrianos, torresãos, e ainda outras formas gentílicas que queiramos adoptar. Todas elas estão correctas, e, para cada uma, haverá argumentos que validam o respectivo critério de adopção.

Ponto prévio: Ciberdúvidas não ministra cursos universitários, daqueles em que se descreve academicamente a história da língua e se divaga sobre as ramificações da sociolinguística. O que se propõe é bem mais simples. Se calhar, até mais difícil: ajudar a resolver as dúvidas que se colocam ao comum dos lusofalantes, do ponto de vista da ortografia, da sintaxe ou da simples pronúncia.

Em "A língua muda toda de 50 em 50 anos?", João Carreira Bom (JCB) destempera, em verdadeiro auto-de-fé que não lembraria ao Diabo. Parece que ficou melindrado por uma citação que eu fizera de Vasco Botelho de Amaral, antiga prata da casa e antepassado do Ciberdúvidas.