Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Polémicas em torno de questões linguísticas.

Na qualidade de ex-oficial sapador devo manifestar o meu completo desacordo relativamente à resposta a uma questão em que se defendia a forma minas antipessoais (in Respostas Anteriores).

Uma mina antipessoal é uma mina contra pessoas e não uma mina para uso pessoal. Na minha modestíssima opinião, é um absurdo dizer minas antipessoais. Devo dizer que até me «arranha» os ouvidos !!!

O plural de mina anticarro é minas anticarro e não minas anticarros.

Nunca dei por mal empregado o tempo que já gastei no vosso consultório nas 10 ou 12 vezes em que a V. recorri, e por isso não posso deixar passar em claro uma tendência nociva, patente numa sociedade dia após dia mais generalizadora, tendência esta bem notória numa resposta do vosso linguista mais destacado, o dr. Neves Henriques.

Ponto prévio: não sou licenciado em Direito. De tal matéria, ressalvo desde já, nada percebo. Agradeço por isso ao "Ciberdúvidas" o ter-me enviado os comentários de ilustres jurisconsultos (em linha como contraponto desta controvérsia) e a maneira delicada e compreensiva como tais comentários foram apresentados.

Estou muito grato ao exmo. senhor Gérard Verdon pelo comentário que fez à minha resposta a Luís Otávio no dia 24 de Setembro sobre a grafia do antropónimo joão da silva porque são as observações discordando de mim que me levam a "sentir", "pensar", "querer", e "agir"; e é assim, "sentindo", "pensando", "querendo" e "agindo", que me cultivo e, por isso, me torno útil ao próximo. E é para isto mesmo que estou no mundo. Bem haja, pois, o Senhor Gérard verdon. Vamos, então, ao assunto:

Na resposta intitulada "Ser cego e não querer ver", escreviam José Mário Costa e José Neves Henriques (in Controvérsias anteriores):

"Ponto prévio: Ciberdúvidas não ministra cursos universitários, daqueles em que se descreve academicamente a história da língua e se divaga sobre as ramificações da sociolinguística. O que se propõe é bem mais simples. Se calhar, até mais difícil: ajudar a resolver as dúvidas que se colocam ao comum dos lusofalantes, do ponto de vista da ortografia, da si...

I

A recente polémica sobre o uso de holocausto entre aspas, para designar o extermínio de seis milhões de judeus na Alemanha nazi durante a II Guerra Mundial, repassou da política para a semântica. E naturalmente, já que é à luz desta que se podem separar denotações e conotações ou, se quisermos, distinguir designações com carga afectiva das que a não têm. Trata-se de saber se e quando podemos pôr holocausto entre aspas e, por outro lado, se e quando a...

Com o distanciamento próprio dos verdadeiramente sábios, o Prof. Neves Henriques coloca a questão das aspas do holocausto no seu devido lugar gramatical. Não há nada a acrescentar do ponto de vista linguístico àquilo que ele, com a sua habitual competência, defende.

Vários comentários se podem fazer sobre o vocábulo holocausto. Vamos ao que parece que interessa:

1 - É uma palavra da linguagem bíblica, onde aparece umas 500 vezes no Velho Testamento. No Novo Testamento, aparece umas quatro.

2 - Era um sacrifício oferecido pelos judeus a Deus, no qual a vítima (um animal) era inteiramente consumido pelo fogo.

3 - Depois o vocábulo holocausto estendeu-se aos seres humanos, na situação do nosso bem conhecido auto-de-fé.

O caminho que vai do erro à norma é longo e irregular, tão longo e irregular como a história dos povos.

No sistema não unitário que é uma língua, entrecruzam-se diversos subsistemas resultantes de situações sociais, históricas, culturais e geográficas também diversas.

Lindley Cintra e Celso Cunha, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, distinguem «três tipos de diferenças internas que podem ser mais ou menos profundas:

O facto de presidenta ser o feminino de presidente não quer dizer que nos vejamos obrigados a empregar a forma feminina. Cada um fará como lhe agradar. E não é por os dicionários registarem presidenta que nos veremos obrigados a empregar tal palavra. Lembremo-nos, até, do seguinte: Há muitas e muitas formas femininas que os dicionários não mencionam: professora, advogada, aluna, empregada, enfermeira, etc.