Pelourinho O abstruso Pais "Natal" Será assim tão difícil entender que o vocábulo natal – seja na acepção de substantivo (o Natal) ou de adjectivo (terra natal) – flexiona-se sempre em número ( os Natais, terras natais)? Não obstante o óbvio e o que aqui (há anos!...) se regista, lá voltámos a ouvir nas televisões portuguesas o abstruso Pais “Natal”. A época bem convida à tolerância, mas francamente!... José Mário Costa · 13 de dezembro de 2005 · 4K
Ensino Claudicar nos exames A intenção do Ministério da Educação [de Portugal] de reduzir os exames nacionais no ensino secundário é um passo no mau sentido. E um péssimo sinal vindo de uma equipa ministerial que, com destaque para a ministra, tinha até ao momento dado boas indicações. É que, gostemos ou não, a realização de exames é, quando correctamente aplicada, um instrumento importante para melhorar as aprendizagens e tornar menos aleatório o sistema de acesso ao ensino superior.Como tudo na vida, os exames nã... José Manuel Fernandes · 8 de dezembro de 2005 · 4K
Controvérsias «O candidato passou a ser eu» – sintacticamente correcto «O candidato passei a ser eu» – enfaticamente correcto Sobre as frase em causa, vejamos: A frase a) tem as palavras na ordem sintáctica normal. Por isso, a frase b) leva-nos a pô-la de lado, discordando do modo como se encontra formada sintacticamente no que respeita à posição dos vocábulos: «O candidato passei a ser eu.» Se o sujeito desta oração é "o candidato" e não "eu", a forma correcta do verbo é passou e não passei. É assim que muitos argumentam. José Neves Henriques (1916-2008) · 5 de dezembro de 2005 · 4K
Controvérsias «O candidato passei a ser eu» = «O candidato passou a ser eu» Parecem-me correctas e aceitáveis ambas as frases. Se considerarmos que é a chamada ordem directa a mais usual em português (sujeito, predicado e complementos), em «O candidato passou a ser eu», o sujeito é O candidato, e eu é o nome predicativo do sujeito. Se, porém, optarmos por «O candidato passei a ser eu», equivalente a «(Eu) passei a ser o candidato», o sujeito é (eu), e o candidato é o nome predicativo do sujeito. Por outras palavras, su... F. V. Peixoto da Fonseca (1922-2010) · 5 de dezembro de 2005 · 2K
Controvérsias É preferível «O candidato passei a ser eu» A frase em análise é composta por: Sujeito - «O candidato» Predicado - «passei a ser eu» Predicativo do sujeito - «eu» Nem sempre o sujeito e o predicativo, embora refiram a mesma entidade, concordam em género, número ou pessoa. «Tudo o resto são mentiras» é uma frase aceitável, tal como a frase em apreço o é. Do meu ponto de vista, é, mesmo, preferível a «O candidato passou a ser eu». Até porque esta frase mantém a discordância de ... Edite Prada · 5 de dezembro de 2005 · 2K
Controvérsias «O candidato passei a ser eu» Já uma vez, a propósito de uma outra construção utilizada por Manuel Alegre, tive a oportunidade de escrever que ela estava correcta, tal como esta. Efectivamente, deverá dizer-se «O candidato passei a ser eu» (= «Eu passei a ser o candidato»), «Os candidatos passámos a ser nós» (= «Nós passámos a ser os candidatos»), «Quem passou a ser candidato fui eu», etc. Maria Regina Rocha · 5 de dezembro de 2005 · 1K
Pelourinho "/Téni/"?! Ténis é um exemplo de palavra que surge por extensão de um determinado conceito. Do desporto (o ténis) e dos sapatos próprios para o praticar (sapatos de ténis), a palavra estendeu-se aos sapatos que servem para praticar desporto em geral, a que normalmente chamamos "ténis". Portanto, quando dizemos «tenho uns ténis novos», no fundo estamos a omitir uma parte da expressão «tenho uns (sapatos de) ténis novos». O mesmo acon... Maria João Matos · 25 de novembro de 2005 · 6K
Antologia // Portugal Cinto que não sinto * Alguns anos atrás, em Campolide, Lisboa, onde moro, deparei-me com um homem de certa idade, a coxear e a tentar driblar a chuva e a ventania. Como no poema de Fernando Pessoa, eu iria adiante, ele passaria também no sentido contrário, e nunca haveria um registo do transeunte anónimo que enfrentava a sua circunstância, ou seja, um quase fim de vida a arrastar-se dolorosamente pela rua. Mas não foi assim, porque assim não quiseram os fados da história. Ele, ao passar, disse-me num tom que adivi... José Alberto Braga · 23 de novembro de 2005 · 4K
Pelourinho Mais atenção às palavras «Palavra dada, escritura assinada», «a resposta branda, a ira quebranta» são dois exemplos de ditados populares que revelam a força dos palavras. A sabedoria popular consagra também que «palavras leva-as o vento». Como as palavras são muitas, há-as para todos os gostos as que se perdem e as que têm, ou são ditas como se tivessem, efeitos na acção. Estes podem ser visíveis na acção de outrem, mas também podem delimitar quadros de pensamento. Um ministro francês, Nicolas Sarkozy, falou em escumalh... José Carlos Abrantes · 21 de novembro de 2005 · 3K
Antologia // Moçambique O lago da língua * O avô, hemiplégico, sentado. A avó na ronda do quarto, entre a porta e a janela abertas. O Verão escorrendo. Então, Maria, não levas a goropelha1? Olha, o senhor engenheiro... A saia e o casaco dela, a malinha a condizer. A desmemória também, numa espécie de alívio expresso no sorriso inocente. O esforço dele para se erguer. Nos longos preparos para o passeio de domingo à tarde, bordejando o mar e o seu perfil, entretinham a velhice. Luís Carlos Patraquim · 16 de novembro de 2005 · 5K