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O nosso idioma

Estrangeirismos no universo dos bebés

Entre o cuidado e a linguagem

Desde que fui mãe, comecei a navegar com mais atenção pelo vasto universo dos cuidados com bebés, e foi aí que reparei na quantidade de termos em inglês que se infiltraram no nosso dia a dia. A presença de estrangeirismos na vida doméstica não é nova, e neste campo parece ter ganhado uma força particular, influenciada por marcas internacionais, redes sociais e comunidades de pais que partilham experiências. Portanto, se antes adotávamos termos franceses como creche (crèche), hoje é o inglês que domina.

No universo dos bebés, há uma série de termos em inglês que se tornaram comuns, mesmo entre falantes de português. Babysitting é talvez o mais conhecido, usado para designar a «atividade que consiste em tomar conta de crianças na casa destas durante a ausência dos pais, mediante pagamento», e, consequentemente, babysitter – «pessoa que, mediante pagamento, toma conta de crianças na casa destas durante a ausência dos pais». Mais recentemente, surgiram expressões como babywearing, que é a prática de transportar o bebé junto ao corpo, usando um pano ou outro tipo de suporte; co-sleeping, que equivale a «partilha da cama com os filhos (bebés e crianças), sono em família»; tummy time, que é o tempo que o bebé passa de barriga para baixo; sleep training, que é o processo de ensinar a criança a adormecer e a voltar a dormir de forma autónoma, sem intervenção dos pais; e swaddle, que consiste em enfaixar o bebé de forma justa, com o intuito de o acalmar e facilitar o sono. Estes termos aparecem com frequência em conteúdos digitais, materiais informativos e embalagens de produtos, muitas vezes sem qualquer tradução ou explicação em português.

Certamente há mais estrangeirismos em circulação, mas estes são alguns dos mais visíveis e recorrentes. Em muitos casos – embora nem sempre – existem ou é fácil encontrar equivalentes em português que poderiam ser usados com naturalidade, como por exemplo «cama partilhada» para co-sleeping, ou «treino do sono» para sleep training, mas a força do inglês – associada à ideia de modernidade ou tendência – acaba por se impor.

A dificuldade do português em afirmar-se neste campo não parece ser só linguística, mas também cultural e comercial. A língua portuguesa está presente, sim, em muitos produtos e comunicações, sobretudo em marcas nacionais ou em contextos mais formais. No entanto, para que se torne dominante, talvez seja necessário um esforço consciente de valorização da nossa língua, sem perder de vista a abertura ao mundo, e às línguas que nele circulam.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa