O dia 1 de junho de 2025 foi com certeza assinalado no Porto por mil e um acontecimentos e incidentes, mas um deles proporcionou a ocasião para um uso que parece relativamente recente: o de assentada (canal NOW, 01/06/2025). Tratou-se de uma manifestação do coletivo Climáximo, que organizou uma manifestação junto do Aeroporto Sá Carneiro, nos arredores da Cidade Invicta, antigamente chamado «aeroporto de Pedras Rubras», topónimo talvez esquecido por muitos portugueses, mas não ainda por quem vive na região. Quanto ao protesto, que se insere no movimento de Resistência Climática, o objetivo era dizer «“Não” a novos projetos emissores [de dióxido de carbono], delinear o rumo necessário para parar aviões e estabelecer transportes públicos gratuitos elétricos e acessíveis para todos» (cf. página do Climáximo).
Assentada nada terá de especial como palavra, pois tem a configuração da forma assentar, variante de sentar, em cujo particípio passado, assentado, se encontra muito provavelmente a forma da base da sua derivação. Acrescente-se que assentar também se emprega, não como variante de sentar, mas, sim, como sinónimo de colocar e estabelecer, bem como de escrever e registar, o que explica que se diga «assentar uma informação» e se entenda a formação de assento, um derivado não afixal do referido verbo, em expressões como «assento de nascimento» e «abrir assento»
Por outro lado, sondando melhor a sua semântica, o termo assentada evoca a designação de outro tipo de manifestação também política, a arruada, desfile ou passeio organizado por um partido no contexto de campanhas eleitorais. Mas a formação de assentada não fica pela relação com o modelo de arruada. Na verdade, fala-se em línguas estrangeiras com ascendente cultural sobre o português contemporâneo e pensa-se no inglês, para depressa encontrar termos semântica e referencialmente afins: sit-in, «ocupação de um espaço como forma de protesto» e, denotando um tipo de sit-in mais específico, sit-down, «ocupação de um espaço por pessoas que aí se sentam, recusando-se a retirar, como forma de protesto» (cf. Wiktionary).
Quer sit-in, com o verbo sit in, quer sit-down, com o verbo sit down, têm outras significações, podendo referir apenas o simples ato de participar num grupo, geralmente de pessoas sentadas (cf. Online Etymology). Sit-in tem sido traduzido de várias formas: «protesto passivo» (Linguee e DeepL), «protesto sentado» (Cambridge English-Portuguese Dictionary), «ocupação» (Base Terminológica da União Europeia – IATE).
Assentada é, portando, uma forma curiosa de traduzir sit-in e sit-down, semanticamente inspirada pelo inglês mas formalmente portuguesa, conseguindo evocar uma outra palavra de cariz também político. E diga-se que é boa solução, porque investe um novo significado numa palavra já existente, com elementos culturais do Portugal contemporâneo. O seu registo numa notícia documenta como os neologismos já nascem carregados de associações, linguísticas e extralinguísticas.