A palavra comummente utilizada para definir alguém que se carateriza pela astúcia e vontade de não olhar a meios para conseguir o que se pretende é maquiavélico. Este adjetivo é frequentemente usado para caracterizar quer personagens de peças de teatro ou séries televisivas quer pessoas mais ou menos comuns que encontramos no nosso quotidiano ora no trabalho ora nas páginas dos jornais. Embora seja um termo empregue com alguma frequência, há ainda quem desconheça a sua origem.
O adjetivo maquiavélico vem do antropónimo Maquiavel, apelido do famoso escritor renascentista Nicolau Maquiavel (aportuguesamento de Niccolò Macchiavelli). Nascido em Florença, na época em que o domínio desta cidade-estado estava nas mãos da poderosa família Médici, Maquiavel foi um importante diplomata em cortes poderosas como a milanesa, de Catarina Sforza, a francesa, de Luís XII ou até mesmo do papa Alexandre VI. Esta sua convivência junto de alguns dos agentes políticos mais poderosos do seu tempo permitiu-lhe desenvolver um pensamento político que mais tarde usaria na sua obra que, apesar de pouco reconhecida na época, perdurou até aos dias de hoje devido à mestria com que descreve certos comportamentos de quem exerce poder e expõe uma doutrina política até então pouco mencionada.
O seu livro mais conhecido, O Príncipe, caracteriza o arquétipo do príncipe renascentista, demonstrando como os mandatários devem governar os seus estados, adaptando-se às circunstâncias de forma a manterem-se no poder e conferir aos respetivos territórios a maior prosperidade possível, e centrando-se no princípio de que os fins justificam os meios. É, portanto, devido a obras como esta que o seu apelido deu origem ao termo maquiavélico e que se encontra atestado em dicionários, como o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, com os sentidos: «que se baseia na doutrina política de Maquiavel, no maquiavelismo, que defende a aplicação da arte de governar como se se tratasse de uma máquina e sem preocupações de carácter ético quanto aos meios; que é próprio do maquiavelismo», «que não olha a meios para alcançar um fim; que engana, ludibria e prejudica, para conseguir o seu objetivo» ou ainda «que envolve ou revela manha e falta de escrúpulos, má-fé, perfídia».
No caso do português, em termos morfológicos, maquiavélico resulta da junção ao nome próprio Maquiavel do sufixo -ico, que serve para exprimir a noção de «relação, semelhança, pertença», em vocábulos como diabólico. Neste sentido, analisando a morfologia deste termo, pode-se assumir que maquiavélico advém da analogia do apelido do famoso escritor renascentista com valor de semelhante ou «ser relativo a».
Note-se, contudo, que a conotação negativa associada ao adjetivo maquiavélico não se deve confundir com quem foi em vida Nicolau Maquiavel, mas antes com as personagens que inspiraram a sua obra como foi o caso de César Bórgia, filho do papa Alexandre VI, e figura que terá inspirado a obra «O Príncipe».