« (...) Dominar o português é também uma questão de status quo. (...) »
A pesquisa em torno da representação sobre a língua portuguesa e da sua assunção ou não como língua de identidade, remeteu-nos para um cenário com o qual não contávamos. […] a forma como os colaboradores deste estudo responderam às questões, não deixa dúvidas de que a sua relação com a língua portuguesa é “saudável” ao contrário do que a realidade dos factos deixa transparecer. É certo que os professores têm um olhar diferente daquilo que é o real desempenho dos alunos e as próprias autoridades, em alguns momentos, admitem que há necessidade de uma política diferente e virada para o resgate da língua portuguesa.
Efetivamente, pelos resultados obtidos, não se pode dizer que a língua portuguesa não é uma língua com a qual os cabo-verdianos não se identificam. Estes podem assumir a língua cabo-verdiana como sendo a sua primeira língua, mas quando se trata de questões de interesse, como o sucesso profissional e escolar todos têm a consciência da importância do português, não deixando transparecer uma representação negativa desta língua. Tendo a língua portuguesa uma representação positiva, a identidade do aluno não está em causa, até porque o olhar sobre a língua portuguesa é hoje diferente por razões várias e de interesse dos próprios alunos. Dominar o português é também uma questão de status quo.
Na verdade, pelos resultados obtidos, não se pode considerar que existe uma relação de conflito, nem de dominação. Se esse foi o discurso ou a narrativa durante muito tempo, esta geração (ou, pelo menos, os que responderam a este questionário) já não está presa a esse preconceito. A abertura ao mundo e a globalização podem ter tido um papel importante na mudança de atitude em relação ao português. O facto de existirem outros povos, de culturas diferentes, com um passado semelhante e que usam a mesma língua, ainda o fator emigração, que é muito importante para um povo insular como o cabo-verdiano também contribuem para uma mudança de atitude, mentalidade, assim como os interesses em causa, que possibilitam a mudança de identidade.
Em suma, é inquestionável a presença muito acentuada do crioulo, língua materna, na vida dos alunos, não só no ambiente familiar, íntimo, no dia a dia como também na própria escola. Mas, o português é também uma língua de identidade dos cabo-verdianos.
Terceira e última parte (conclusão) do estudo da professora universitária Goreti Freire., dedicado à problemática do uso da língua portuguesa nas escolas cabo-verdianas e a representação que os estudantes têm do português.