Há dias, chamaram-me a atenção para um comentário nas redes sociais, no qual se relacionava certo comportamento com o «"fórum" psiquiátrico». Posso ter estranhado, mas não senti entranhar-se curiosidade nenhuma por um encontro de psiquiatras, razão por que já me preparava para pensar noutros assuntos. Contudo, quem me alertou insistiu e deu-me conta do seu exame atento: a intenção era obviamente referir não uma reunião, mas, sim, um campo de intervenção, e, por isso, devia ter-se falado de «foro psiquiátrico», e não de «fórum psiquiátrico». Para apurar se este era caso isolado, uma consulta Google depressa me revelou que a confusão entre foro e fórum não é infrequente, e encontram-se exemplos de «doenças do “fórum” psiquiátrico», «questões do “fórum” psiquiátrico» ou «pacientes do “fórum” psiquiátrico.
Convém, portanto, fazer a destrinça entre fórum e foro. É verdade que fórum é aportuguesamento direto do latim forum, «praça pública, tribuna, tribunal» (cf. Dicionário Houaiss), e, nesta aceção, é sinónimo de foro, originário do referido étimo latino. Acresce que, não obstante o ar de família, fórum e foro são palavras divergentes, a primeira de tradição fortemente erudita e a segunda de feição mais vernácula.
Observam-se ainda tendências divergentes nas associações lexicais destes vocábulos. Fórum pode ocorrer como o mesmo que «debate entre especialistas sobre determinada matéria» (ver dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), concorrendo com encontro ou congresso, e usa-se também no sentido de «espaço de discussão» na comunicação mediática. Por seu lado, o termo foro liga-se a adjetivos em «foro eclesiástico», «foro militar» e «foro íntimo» (cf. ibidem). Nestas locuções, seria insólito substituir foro por fórum, sobretudo em «foro íntimo», cuja alusão à ideia de privacidade se conjuga mal com a dimensão pública de fórum.
Há, portanto, bons argumentos para aceitar «foro psiquiátrico» e rejeitar «"fórum" psiquiátrico». É certo que a fonia semelhante de fórum e foro – são palavras parónimas – , aliada ao facto de continuarem a ser parcialmente sinónimos, parece reverter a sua diferenciação semântica. Ainda assim, o modelo de «foro íntimo» indica que a forma adequada da locução é mesmo «foro psiquiátrico».