No exercício de utilização de uma determinada língua, por vezes, passamos por momentos em que a nossa maneira de exprimir uma palavra ou expressão é corrigida por aqueles que não a reconhecem como estando de acordo com os códigos específicos desse sistema linguístico. Estes casos são frequentes nos processos de aquisição, começando logo durante a aprendizagem das unidades orais. Por exemplo, em português, é comum os pais ou educadores corrigirem as crianças quando estas verbalizam “sube” ao invés de soube. Quando, mais tarde, com a entrada na escola e o inicío do processo de aprendizagem da escrita, os problemas passam também a sentir-se no papel. Neste sentido, os estudantes do Iscte que foram entrevistados para o Ciberdúvidas admitiram que as suas dificuldades na expressão do português são principalmente na escrita. Zenaida Soares explica que essa sua dificuldade se relaciona com «a preocupação de fazê-lo de forma correta».
Colocando em contraponto a oralidade e a escrita, muitos falantes declaram que os desafios que sentem na expressão de um idioma estão, na sua grande maioria, no plano da escrita. Contudo, uma modalidade não está desassociada da outra, uma vez que a escrita resulta de um processo de transferência de unidades orais para unidades escritas. Por conseguinte, muitos investigadores da área da aquisição consideram que é fundamental que, durante os primeiros anos de escola, as crianças sejam capazes de manipular explicitamente as formas orais, antes mesmo de passarem para a aprendizagem das escritas.
Apesar de a oralidade e a escrita serem mutuamente influenciadas, estas constituem duas realidades diferentes, na medida em que a escrita não é capaz de transcrever fielmente a oralidade, pois, em muitos casos, vários formatos fónicos correspondem apenas a um formato escrito. É esta a razão que está na génese de muitos erros ortográficos e que leva a que a tarefa de expressão de representações escrita seja extremamente exigente. Em consonância com esta ideia, Jairo Júnior afirma que, no seu caso, «é muito mais fácil transmitir uma mensagem oralmente, [porque] escrever exige [da sua parte] um esforço maior».
Contudo, o surgimento das novas tecnologias de informação e comunicação veio de algum modo mitigar muitas das contrariedades sentidas no processo de comunicação escrita. Pedro Ramos admite que muitas das adversidades que experimentou quando escrevia desapareceram a partir do momento em que começou a utilizar o computador para a realização dessa tarefa. Também o livre acesso, por via da internet, a dicionários em linha e a sítios como o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa contribuiu igualmente para uma facilidade de utilização de ferramentas que têm o intuito de auxiliar na superação de muitas das dúvidas com que os falantes se deparam. Zaine Soares confessa que, quanto tem dúvidas sobre a pronúncia correta de determinada palavra ou sobre a grafia de certa expressão, costuma ir aos dicionários e, por vezes, ao Ciberdúvidas.
Portanto, ter dúvidas sobre a língua em que nos exprimimos é algo natural e que faz parte do processo de comunicação. Felizmente, instrumentos como o Ciberdúvidas existem para ajudar os utilizadores a colmatá-los, independentemente do seu domínio da língua portuguesa.
Cf. O que pensam os falantes de português da sua língua? + A aprendizagem da língua materna + O pluricentrismo do português