No segundo semestre de 2023, emergiu uma nova aplicação de encontros, a Timeleft, que veio juntar-se a diversas outras já existentes, como Tinder, Grindr e Happn. No entanto, ao contrário dessas plataformas, a proposta da Timeleft é facilitar encontros às cegas entre indivíduos que compartilham interesses comuns, sem a expectativa de encontrar a cara-metade.
Para dar conta desta nova aplicação, o Jornal de Notícias publicou um artigo alusivo à mesma – «"Olá, estranho". Aplicação desafia utilizadores a jantar com cinco desconhecidos» (27/11/2023) –, onde testemunhos de utilizadores são apresentados. Ora, acontece que nessa mesma notícia encontramos a 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo sair mal grafado: «A Timeleft tenta tirar um pouco dessa pressão, porque os participantes "apenas saiem para se divertir, quem sabe fazer amigos e se tiver sorte algo mais".»
Na língua portuguesa, considerando o verbo partir como um paradigma da 3.ª conjugação, ou seja, a dos verbos regulares que terminam em -ir, o seguinte paradigma da conjugação do presente do indicativo: «eu parto», «tu partes», «ele/ela/você parte», «nós partimos», «vós partis», «eles/elas/vocês partem». Entretanto, é importante observar que muitos dos verbos dessa conjugação não são regulares, e a irregularidade, por vezes, ocorre apenas numa pessoa, como é o caso do verbo pedir, que apresenta irregularidade na 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo: «eu peço».
Além disso, há outros verbos que demonstram maior irregularidade, como é o caso de sorrir e rir, que conjugam a 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo em -iem (eu sorrio, tu sorris, ele/ela/você sorri, nós sorrimos, vós sorrides, eles/elas/vocês sorriem). Contudo, este não é o caso do verbo sair.
O verbo sair é também irregular, contudo, ao contrário do verbo sorrir, na 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo, conjuga-se de forma regular, sendo saem. Assim, a conjugação completa é: «eu saio», «tu sais», «ele/ela/você sai», «nós saímos», «vós saís», «eles/elas/vocês saem». Esta característica estende-se a outros verbos semelhantes, que no infinitivo acabam em -air, tais como cair, esvair, trair (e derivados deste como atrair, contrair, distrair, retrair).
Apesar de ser um equívoco frequente, a origem desse erro reside na pronúncia de saem, que soa como "saiem" (em Portugal, [saiɐ̃j̃]). Importa destacar que esta pronúncia não é considerada errada; pelo contrário, faz parte da norma-padrão. Em português, a vogal i frequentemente atua como glide, representado pelo símbolo fonético [j], para evitar hiatos, ou seja, encontros vocálicos que não se resolvem como ditongos (consultar resposta publicada aqui).