«[…] as pessoas têm de começar a integrar no seu léxico de atuação no trabalho, compreender que nós precisamos de comportamentos e atuação de negócio e atuação de negócio significa “a tua ação”. É isso que significa atuação, a tua, não depende do Governo, não depende das universidades, não depende das empresas, depende de ti […]» ("Bater Punho – Miguel Gonçalves na Praça da Alegria", Youtube, 11/11/2011, ver 1m07)
O vídeo de onde se extraiu a citação supra já tem uns anos mas só agora dei com ele e o vi. Isto de atuação significar «a tua ação» é realmente mais um engenhoso e inventivo exercício de paraetimologia, na esteira de muitos outros, alguns dos quais, treinador («aquele que treina a dor»), lutador («aquele que luta com a dor») e vencedor («aquele que vence a dor»), já por aqui foram comentados. Espanta-me sempre a criatividade dos falantes nestas corruptelas. Há que que distinguir, porém, as naturais, que no fundo são formas de entender o significado das palavras e expressões que usamos, e as deliberadas, propositadamente adulteradas como forma de fazer passar uma determinada mensagem, como me parece ser o caso... Há até algumas que caem no goto, generalizam-se e acabam por se fixar como lei na língua, porque na verdade quem manda na língua são os falantes, já que gramáticos, linguistas e outros especialistas apenas a disciplinam.
Não obstante a manifesta inventividade e criatividade do orador, atuação é um substantivo que provém do verbo atuar, a que se adicionou o sufixo -ção para indicar a ação, nominalizando-o, como, aliás, acontece com muita frequência na língua, de que são exemplos: educação (a partir de educar + -ção) ou instrução (a partir de instruir + -ção), e tantos outros.