«(...) Infelizmente a maioria dos nossos políticos nunca ouviram falar em irenologia e a única memória/experiência que têm de resolução de um conflito armado é a da guerra colonial em que se combateu até que um los lados foi derrotado — neste caso o derrotado foi o colonialismo português, primeiro na Índia e depois na Guiné-Bissau. (...)»
A guerra na Ucrânia vai-se prolongando, as sanções ocidentais, autênticos tiros nos pés, continuam a perturbar os mercados internacionais, a inflação vai diminuindo os rendimentos da esmagadora maioria da nossa população, a estagnação económica instala-se, os serviços públicos degradam-se por falta de financiamento e de quem queira trabalhar a troco de migalhas, o governo desiste da bazuca, que assim se torna mais uma oportunidade perdida, e os portugueses vão engrossando a nova onda de emigração.
Neste marasmo decadente muito se discute a guerra, mas nunca vi qualquer especialista em irenelogia a ser chamado a pronunciar-se nas televisões. Mas o que é a irenologia * e de onde vem este nome que soa tão estranho nos dias de hoje?
O nome deriva de Santa Irene da Capadócia a padroeira da Paz. Em seu louvor existe uma Igreja ortodoxa em Istambul, a Hagia Irene ou Santa Paz.
A irenologia, como se pode antever, é a disciplina académica que estuda a Paz, as formas de resolver conflitos e de manter/alcançar a Paz. Nela confluem elementos da Ciência Política, da Sociologia e de outras ciências sociais.
Eis, então, que quando devíamos estar a escutar os especialistas em irenologia para conseguirmos uma Paz duradoira na Europa, preferimos ouvir generais e outros especialistas em guerras, que tudo o que sabem aconselhar é o envio de armas cada vez mais destrutivas e a escalada do conflito.
Os países ocidentais estão cada vez mais envolvidos na luta direta; se no início estes países se limitaram a enviar armas, hoje já são milhares os combatentes destes países que estão na Ucrânia nas mais diversas funções. O perigo aumenta, uma guerra nuclear em solo europeu é cada vez mais provável e a irenologia é fundamental para sentar as partes à mesa das negociações antes que seja tarde.
Infelizmente a maioria dos nossos políticos nunca ouviram falar em irenologia e a única memória/experiência que têm de resolução de um conflito armado é a da guerra colonial em que se combateu até que um los lados foi derrotado — neste caso o derrotado foi o colonialismo português, primeiro na Índia e depois na Guiné-Bissau.
Já se perdeu demasiado tempo. É urgente que a guerra à nossa porta não se transforme na guerra pela nossa casa dentro. É preciso que Portugal, país inofensivo, contribua para a Paz e faça ouvir a sua voz em favor de negociações. Mesmo que essa seja uma voz divergente do coro ocidental.
Artigo publicado no Diário de Notícias, em 16 de outubro de 2022.