A expressão «ajuda letal» foi retomada recentemente na comunicação social portuguesa, associada ao contexto da guerra na Ucrânia para referir o apoio em armamento bélico ao Governo de Kiev, por parte dos EUA e outros países ocidentais.
Se refletirmos um pouco sobre esta expressão, percebemos, todavia, que ela reúne conceitos contraditórios. Por um lado, ajuda significa «auxílio, socorro». Trata-se de uma palavra marcada pelo efeito positivo e por uma vontade de agir sobre o semelhante de forma benéfica. Por outro, letal é um adjetivo marcado por conotações negativas, atualizando sentidos como «mortal, mortífero, letífero». Ora, a junção destes dois termos acaba por convocar a associação de sentidos contraditórios que procuram sintetizar um polo positivo com um polo negativo. Visto desta perspetiva, não faz muito sentido afirmar que vamos dar uma ajuda mortal ou mortífera.
O nome ajuda poderá associar-se, com toda a propriedade, a termos que convoquem valores positivos, que, desta forma, complementam naturalmente o conceito de auxílio, o que acontece em expressões como «ajuda alimentar», «ajuda financeira», «ajuda humanitária» ou «ajuda médica».
Para resolver o paradoxo que a expressão «ajuda letal» institui, bastará recorrer a construções como, por exemplo, «ajuda militar», «auxílio militar» ou «auxílio bélico».