Os tempos de incerteza que atravessamos são propensos à vivência de sentimentos negativos, entre os quais se encontra o medo. Esta sensação constitui uma reação a um qualquer estímulo, físico ou mental, que nos faz sentir ameaçados. O medo não tem sempre a mesma intensidade. Experimenta-se numa escala, que vai da ansiedade ou da inquietação, os níveis mínimos do medo, ao pavor total, a intensidade máxima do medo.
Medo advém etimologicamente da palavra latina metus. O conceito da palavra latina era um pouco diferente do atual, pois aquela traduzia um temor de contactar com algo grandioso que levaria ao êxtase. Não referia, assim, um sentimento de apreensão ou de cobardia, mas uma reação de inquietação associada à perplexidade perante algo maior do que o próprio homem.
Meticuloso é um adjetivo que, na sua origem, é aparentado da palavra medo. Evoluiu do termo latino meticulosus, que significava «medroso», sendo um derivado de metus. Atualmente, meticuloso designa essencialmente alguém dado a pormenores, minucioso, escondendo os seus significados originais ligados ao sentimento do medo.
Todavia, nos dias que correm, ser meticuloso acabou por se transformar numa defesa contra o próprio medo, numa atitude que controla o medo que vivemos à interrogação que marca o nosso futuro.
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Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 20 de setembro de 2020.