A fadista Amália Rodrigues, que teria completado 100 anos no dia 23 de julho p.p., tem merecido muitas homenagens nos diferentes meios de comunicação social portuguesa. São honras merecidas que nos permitem recordar a diva do fado, que continua a deixar-nos rendidos com as suas interpretações e voz excecionais.
É certo, todavia, que as homenagens devem estar à altura do homenageado em todos os planos. E a escrita não é exceção. Foi o que não aconteceu no concerto de comemoração do centenário de Amália Rodrigues promovido pela Fundação Amália e a Câmara Municipal de Odemira, no Brejão, em Odemira, e transmitido pela RTP1, intitulado «Bem-vinda sejas Amália». Este título esqueceu o óbvio: Amália é aqui um vocativo. Trata-se do interlocutor a quem a frase é dirigida. Ora, sempre que temos um vocativo¹, mandam as regras da boa pontuação, devemos assinalá-lo com uma vírgula. Encontre-se este no final da frase:
(1) «Bem-vinda sejas, Amália.»
no seu início:
(2) «Amália, bem-vinda sejas!»
Ou no seu interior (sendo, neste caso, isolado por vírgulas):
(3) «Bem-vinda sejas, Amália, a esta nossa casa!»
Uma vírgula simples que faz toda a diferença!
¹ Do ponto de vista do grafismo poderá justificar-se que a distinção da cor no nome Amália permita a elisão da virgula — mas a verdade é que em todos os demais suportes escritos na RTP ela foi sempre esquecida. Um erro, de resto, recorrente na televisão pública portuguesa. Cf. Bom dia Portugal.