« (...) As aulas continuam. As tarefas continuam, ponderadas, doseadas, porque os computadores não abundam, o tempo é muito, mas as disciplinas são muitas também. (...)»
Ninguém estava à espera, mas rapidamente nos adaptámos. Nós, os professores. Eles, os alunos. Apesar de tantas vezes as relações não terem sido as mais amistosas, numa fase difícil, parece que todos nos unimos, inclusivamente os encarregados de educação, que, sobrecarregados com o teletrabalho passaram a acompanhar os filhos.
Os professores desdobraram-se em reuniões onde procuraram as melhores soluções para chegarem até aos seus alunos. Aprendem e ensinam, reaprendem e atualizam-se, formando-se rapidamente, durante o dia, à noite, sem tempo, sem horas. Mas estão lá. E as aulas nascem! A maior parte dos alunos cumprem. Os meus, particularmente, têm sido excecionais. São pontuais, obedientes, respeitadores. Cumprem as tarefas. Ouvem-me com atenção. Sei que o tempo é pouco e não tão rentável como o seria numa situação habitual. Eles sabem-no também. Parecem ter consciência da importância do saber aproveitar o tempo. Esse tempo que temos de rentabilizar, porque estamos confinados. Esse tempo que serve para aprender a estudar sozinho, a organizar, a refletir, a meditar sobre a vida e o que queremos dela.
Na primeira aula que lhes dei, confessei-lhes o quanto eles me faziam falta, as saudades que sentia. Falei-lhes da importância do isolamento para amadurecerem, para aprenderem a dar valor àquilo que têm. Eles ouviram. Consentiram. Concordaram. Passou algum tempo. As aulas continuam. As tarefas continuam, ponderadas, doseadas, porque os computadores não abundam, o tempo é muito, mas as disciplinas são muitas também. Os professores são responsáveis e, se fosse preciso, preparavam aulas na Lua. Estou orgulhosa de nós, povo humilde português. Um povo lutador! Um povo capaz de atos grandiosos! Um povo que ensina os seus filhos a proteger os mais fracos, os mais velhos, os mais frágeis. Estou orgulhosa de fazer parte deste grupo lusitano que, discreta e organizadamente, tem dado passos pequenos, mas seguros: médicos, enfermeiros, bombeiros, assistentes operacionais, padeiros, funcionários de supermercado, políticos, pais responsáveis que se desdobram em casa, professores.
Afinal somos portugueses. Professores portugueses! Só poderíamos ser bons!