«O verbo haver assola-nos. Há crise. Não há dinheiro. Há impostos, taxas, Salazares fantasmagóricos a rasparem umas gamelas a que se chamava direitos adquiridos…». Texto do autor lido no Páginas de Português, da Antena 2, no dia 22 de dezembro de 2013.
A troika há de sair [de Portugal] em meados de 2014. Eles hadem! Os patriotas, que gostam mais de dizer triunvirato, já fizeram figas e garantem-nos que sim. Já há contagem decrescente em relógio eletrónico e tudo. Quando isso acontece, é certo. Eles hadem mesmo de sair! Pegam nas malas de cartão e, pela calada da noite, despedem-se do austero hotel onde se hospedaram tantas vezes. O tempo não há de voltar para trás. Coitados dos triúnviros! Será que se hadem juntar aos quase duzentos mil portugueses que já fizeram o mesmo?
O verbo haver assola-nos. Há crise. Não há dinheiro. Há impostos, taxas, Salazares fantasmagóricos a rasparem umas gamelas a que se chamava direitos adquiridos. Ele há tudo porque nos dizem que não há nada. Mas não é verdade. Há o Hades. Há Adem e as Arábias para os que não sabem conjugar o verbo. Ah, e há eles que se hadem pirar e os outros, com bandeirinha na lapela, que se hadem ficar, por enquanto. À cautela, preparando os ingredientes para os triúnviros invisíveis que hadem arribar logo a seguir. Mesmo que o relógio eletrónico fique com os números a zero.
crónica transmitida no programa Páginas de Português, da Antena 2, no dia 22 de dezembro de 2013