Vai haver namoro. Políticos, jornalistas, politólogos e tudólogos já o decidiram, não há maneira de escapar. Urge apenas esclarecer uma questão, básica e fundamental: namorar alguém, namorar com alguém ou simplesmente namorar, sem mais nem menos? É grande a desorientação na matéria.
Os dicionários afirmam que namorar deriva de enamorar (com uma aférese, isto é, a queda do fonema inicial). Calculo que Passos, Seguro e Portas não estejam muito preocupados com as aféreses. O que eles querem é namorar. Namorar é preciso. O que virá depois é coisa que se resolverá a seu tempo.
Namorar é procurar inspirar amor, cortejar, galantear, apaixonar-se, procurar agradar. Trata-se de um verbo por natureza dinâmico e primaveril. Exige cumplicidades, concordâncias e consensos. Pode ser transitivo directo, transitivo indirecto e intransitivo, conforme a terminologia tradicional. Tanto parece ser correcto dizer-se «Passos namora Seguro» como «Seguro namora com Passos» e até mesmo «Portas namora».
Há gramáticos que garantem que namorar com não é recomendável (mas quem se atreve a dizer isto a Passos ou a Seguro?) e que namorar alguém é mais correcto. Citam Eça e Machado de Assis, entre outros, para corroborar tais afirmações. E chamam também a atenção para um outro significado de namorar: cobiçar, desejar muito (um emprego, um cargo, alguma coisa). Aqui fica um exemplo: «Tanto namorou o poder que acabou por ficar com ele.» Esta acepção de namorar tem algum futuro entre nós.
texto publicado no jornal i, de 25 de abril de 2013, na crónica semanal do autor, "Ponto do i", com o título original "Namorar". Respeitou-se a antiga ortografia, seguida pelo jornal.