A crise que Portugal vive também tem reflexos na linguagem. Expressões novas entram todos os dias no nosso quotidiano. Antes da crise sabíamos que existia dívida pública mas porventura nem todos saberíamos que existia dívida soberana! Os exemplos poderiam multiplicar-se.
A crise que o País vive tem também reflexos nas mensagens que desejamos uns aos outros nestes períodos de passagem. Ainda que um pouco em desuso, era apesar de tudo comum, por estes dias, desejar um «próspero ano novo», associando-se a prosperidade pessoal sobretudo à riqueza material. Ora, sabendo-se de antemão que pelo menos os trabalhadores por conta de outrem vão, na generalidade, necessariamente empobrecer em 2012, seja pela redução dos salários, seja pelo aumento de impostos, seja pela inflação, seja pelo efeito conjugado de todos estes fatores, parece-me que votos deste teor foram neste ano postergados em favor de outros menos ambiciosos, mais realistas. Que me lembre, só uma pessoa das minhas relações me escreveu utilizando essa fórmula! Terá porventura havido como que uma reflexão mais ou menos consciente sobre o valor referencial da linguagem, adaptando-a aos tempos que vivemos!
Porém, analisando a expressão, parece-me redutor associá-la exclusivamente à riqueza material. A prosperidade está também associada à felicidade, ao sucesso, ao êxito, ao desenvolvimento e crescimento pessoais, aspetos que não têm necessariamente uma relação direta com a riqueza material. E a expressão «próspero ano novo» pode também significar apenas «feliz ano novo» ou desejar que o ano seja propício, favorável, e não apenas um ano mais rico, mais abundante, mais farto. A etimologia da palavra prosperidade (do latim prosperitāte-) ao significar boa-sorte, ventura, felicidade, boa-saúde, também o mostra.
Sendo bem certo que, por estes dias, nem a linguagem fica imune, desejo, apesar disso mas também por isso, a todos os colaboradores e leitores do Ciberdúvidas um «próspero ano novo»!