Este escritor dá as boas-vindas à turma do [blogue] Eu Sei Escrever. É sempre bom confiar nos jovens, apostar na capacidade que têm para resolver, com novos modos, velhos problemas. Mas para tanto os adultos precisam adotar a conversa clara, que leva ao trato justo, sem nenhuma submissão a modismos, principalmente aqueles rebaixamentos que têm o fim de paparicar a juventude. Mas também não podem transformar relações de sentido em relações de poder. No caso, tal inversão significa reiterar o autoritarismo, sempre próximo da insensatez, resumido como segue: vocês precisam escrever como nós escrevemos, na base do argumento fajuto de que "nós" escrevemos certo, e vocês, "errado".
Era preciso avisar aos internautas, principalmente aos mais jovens, que o internetês tinha atravessado a perigosa linha vermelha que tudo desordena e vira de ponta-cabeça o que se quer: em vez de clareza, confusão; em vez de comunicação, a selva escura em que tantos já se perderam sob o disfarce da contestação por ela mesma.
Inconformados com o internetês, tema deste Observatório , aqui e na televisão, um grupo de jovens deu uma resposta criativa. A novidade está em Eu Sei Escrever. É empreendimento de um grupo de jovens inconformados com os abusos do internetês, sendo o mais grave querer impor o recurso dos torpedos dos celulares, eficientes como recados rápidos, como língua única, capaz de atender a todos os altos objetivos de um sistema complexo como é uma língua, para cuja estruturação a Humanidade consumiu séculos!
E os sistemas de busca?
Orgulhosos da receptividade que obtiveram na imprensa, os jovens celebravam dia 10 deste junho no [blogue] que criaram:
«Acabamos de gravar a entrevista para a Band, fomos procurados pela Época e a campanha foi citada na CBN (obrigado pelo aviso, Elmo). Também estamos no portal Elnet e no [blogue] Cat Eyes. A comunidade do Orkut chegou à casa dos 350 integrantes (em dois dias). Parabéns a todos que estão apoiando!»
Eles foram até mais corajosos dos que os críticos que vituperaram «o português assassinado a tecladas» e desprezaram a excessiva piedade com que foram acariciados por quem deveria rebater a insensatez. Foram também mais eficientes do que uns e outros, pois criaram um filtro que corrige o que foi denominado «analfabetismo virtual».
«O Fórum PCS inventou um filtro de palavras com erros propositais, escreveu Claudia Ferraz em O Estado de S.Paulo (9/6/05, pág. A 20), indicando como se dá a correção: «O "site" substitui automaticamente as abreviaturas pelas palavras corretas e destaca o texto corrigido com uma cor ou em itálico.
Vejamos o que nos diz Paulo Couto, o criador do "site":
«Quando lancei a campanha no fórum, alguns disseram que iam continuar escrevendo como queriam, mas depois de tanta crítica dos próprios colegas (grifo meu), porque a palavra ficava em vermelho, passaram a escrever certo».
«Aos redatores e moderadores do Fórum não entendiam as mensagens.» Quanto ao "apoio" ao internetês, recebido da rede Telecine de TV a cabo, que lançara a sessão de filmes "Cyber Movies", com legendas exclusivamente em internetês, eis seu desabafo: «Acho um absurdo». E indicou uma dificuldade que ninguém tinha comentado:
Aos poucos essa linguagem vai complicar os sistemas de busca e não sei até que ponto isso é saudável para o Brasil».
Instrumento de cidadania
Em apenas dois dias, uma comunidade aberta no Orkut para defender a língua portuguesa e combater o internetês tinha 350 integrantes! Quando escrevia estas linhas, eram 475! Eis o depoimento de um pai:
«Adorei esta comunidade, pois a tempo estou pedindo a minha filha que escreva corretamente mesmo usando o MSN ou enviando e-mails. Eu pessoalmente tenho muita dificuldade com a nossa língua portuguesa, por isso, procuro usar sempre um corretor de texto. Percebi que no caso do Office tanto para o Excel como para Word o corretor não corrige os pronomes oblíquos. Alguém conhece um bom corretor de textos»?
«Quem usa internetês, jamais terá capacidade para construir um discurso complexo», comentou Ale Carvalho, da mesma comunidade, que tem uma página na internet que comenta O Sofá Estampado, de Lygia Bojunga Nunes, autora infanto-juvenil que arrebatou o prêmio H. C. Andersen, o Nobel da categoria.
O debate trouxe caras, roupas e palavras novas. Em comum, a preocupação com a língua portuguesa, instrumento de cidadania e ferramenta de trabalho, além de meio de expressar o que sentimos, vemos, percebemos, intuímos.
in "Observatório de Imprensa"