« (...)Apesar da boa posição relativa da língua, apenas 3,5% dos conteúdos da Internet se encontram em português (contra 25% em inglês, 15% em chinês, 7% em espanhol, 4% em francês e hindi), havendo muito espaço de crescimento. (...)»
O projeto Presença da Língua Portuguesa na Internet (PPI) foi executado, em 2021, pelo Observatório da Diversidade Linguística e Cultural na Internet, sob coordenação da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UFSC, Brasil), com financiamento do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, através do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP). O documento, de 118 p., encontra-se disponível online e contém informação valiosa para quem se ocupa (ou deveria ocupar) de desenvolver políticas linguísticas para o português.
Em 2011, fora publicada A Língua Portuguesa na Era Digital (org. António Branco e outros, online), que apresentou dados então inéditos sobre a presença do português na Internet. A obra mostrou, entre outros aspetos, que a língua portuguesa era então a quinta mais utilizada na Internet (ultrapassada pelo inglês, chinês, espanhol e japonês) e que havia registado um surpreendente crescimento de 990% em número de utilizadores, entre 2000 e 2010, especialmente graças ao crescimento do acesso à rede por parte do Brasil.
O PPI usou metodologia inovadora e informações atualizadas sobre a presença do português na Internet, a partir do acesso a um amplo conjunto de fontes de dados atuais, tendo em conta o multilinguismo dos falantes. Segundo o seu relatório final, o português ocupa o sexto lugar entre as línguas mais usadas na Internet, atrás do inglês, chinês, espanhol, francês e hindi, e seguido de perto pelo árabe, alemão japonês e russo. Outros dados relevantes são a diminuição da presença do inglês na Internet (de 30% em 2017, para 25% em 2021), a consolidação do espanhol como a 3.ª língua e o expressivo crescimento do árabe e do turco.
A percentagem de falantes de língua portuguesa conectados à Internet é globalmente de 67%, sendo Brasil e Portugal os principais responsáveis por esta situação, com 74% e 75% de pessoas conectadas, respetivamente; os demais países de língua portuguesa apresentam os seguintes valores: Cabo Verde (62%), Moçambique (21%), São Tomé e Príncipe (33%), Timor-Leste (30%), Angola (16%) e Guiné-Bissau (5%). Em conjunto, portanto, a língua portuguesa está em 33.º lugar na lista de línguas com maior percentagem de internautas. Portugal apresenta, contudo, índices de conexão inferiores à média dos países da OCDE e uma baixa taxa de crescimento.
Apesar da boa posição relativa da língua, apenas 3,5% dos conteúdos da Internet se encontram em português (contra 25% em inglês, 15% em chinês, 7% em espanhol, 4% em francês e hindi), havendo muito espaço de crescimento. Entre os temas mais procurados por falantes de português, destacam-se motores de busca, jogos, filmes, hospedagem, pornografia e partilha de arquivos, muito acima da média dos procurados por falantes de outras línguas, enquanto o uso de redes sociais profissionais, websites de perguntas e respostas (e.g. Quora), blogues e comércio eletrónico se encontram muito abaixo. Os falantes de português são, assim, mais consumidores do que produtores de conteúdos e a utilização da Internet tem mais peso para o lazer do que para a vida profissional.
A 21 e 22 de novembro, hoje e amanhã, decorre em modo virtual o Seminário Internacional Presença do Português na Internet: situação, oportunidades e estratégias, que, além de abordar os resultados do PPI (cuja leitura se aconselha), se propõe estabelecer um conjunto de recomendações para o desenvolvimento estratégico da presença da língua portuguesa na Internet. Há muito a fazer.
Crónica publicada no Diário de Notícias de 21 de novembro de 2022.