O Presidente Armando Guebuza disse não gostar que o seu país seja apresentado como de «expressão portuguesa». A fórmula geral é, de facto, ambígua. Moçambique é moçambicano. Mas dito como língua usada há que reconhecer que o português é cimento da nacionalidade moçambicana. A Constituição de Moçambique só o reconhece como "língua oficial", qualquer coisa como um tem que ser. Línguas nacionais são o shona, o macua, o maconde. A história recente do país diz outra coisa. A longa guerra civil que a Frelimo e a Renamo travaram foi acabada à mesa das negociações, porque a falar é que a gente se entende. E em que língua foi conseguido esse momento marcante do destino moçambicano? Pois é, a língua portuguesa foi a dos colonizadores portugueses, das tropas de segunda linha angolanas, dos médicos goeses — tudo o que fez o Moçambique do passado. Mas foi também com ela que já se conseguiu o Moçambique de hoje. As línguas nacionais, como as nações, vão-se fazendo.
in “Diário de Notícias” de 26 de Março de 2008