A cultura (qualquer cultura) de um povo (qualquer povo) tem uma força de resistência extraordinária. Um termo estrangeiro para entrar no falar de uma população precisa ser de grande utilidade ou não existir no quotidiano local.
A terminologia informática mantém a origem inglesa por não haver equivalentes no linguajar indígena. Os novos desportos alienígenas, que estão sempre a aparecer, impõem as suas expressões originais, sendo depois incorporadas pelo processo de tradução directa ou transliteração.
Nos últimos 30 anos, a presença brasileira na televisão portuguesa tem sido constante. São as telenovelas, os programas humorísticos, filmes e séries, bordões e gírias. Tudo começou com «Gabriela» e daí para a frente passou a ser "cotidiária". O esperado "choque lingu[ü]ístico", contudo, não aconteceu, e a "invasão", que tanto os portugueses temiam, foi totalmente "descomida" e banalizada.
Durante essas três décadas consumindo produtos brasileiros, muito pouca coisa foi absorvida no falar português, e quase todas as expressões tomadas por empréstimo se revelaram de enorme utilidade. Eram palavras que faziam falta e foram bem-vindas. É o caso de manchete, que substituiu parangona, contramão em vez de sentido contrário, mordomia, tudo bem, churrascaria de rodízio, picanha, caipirinha, chuteira etc.
Bicha, que no Brasil e em Portugal, originariamente, significava fila, ganhou nos dois países significado de homossexual masculino, mas que já está a ser ultrapassado pelo termo saxónico "gay".
Do italiano, via Brasil, entrou a saudação "ciao", substituindo o poético e lusitaníssimo adeus, que é uma pena.
Estão a sofrer sérias ameaças os termos massa associativa, falange de apoio, claque, os adeptos dos clubes de futebol.
Torcida e galera querem desbancar a bancada dos estádios.
Sufoco entrou pela porta do desporto e depois passou a ser consumida em outras circunstâncias. Pela mesma porta entrou também uma aberração: correr atrás do prejuízo, que os narradores de TV e relatores da rádio não se cansam de repetir, julgando que é isso o que acontece à equipa[e] que está perder e tenta a inversão do resultado. Ninguém corre atrás de prejuízo. Corre-se atrás do lucro.