É o exame nacional do secundário com mais alunos inscritos — 66 700 —, mas também um dos que normalmente causam menos dores de cabeça aos alunos. Ontem de manhã, a opinião dos estudantes da secundária Padre António Vieira, em Lisboa, era consensual: o teste de Português (prova 639) era «acessível», «mais fácil do que nos anos anteriores», e «correu bem», até para os que pouco tinham estudado.
Para além de incidir apenas sobre o programa do 12.º e não de todo o secundário — uma medida excepcional justificada pela criação neste ano de uma prova única para os alunos do programa antigo e do novo —, o exame voltou a não ter perguntas directas sobre gramática, tal como aconteceu em 2006. O que «ajudou bastante», explica Ricardo, de 18 anos, candidato a um curso superior de Gestão. «Bastava uma boa interpretação dos textos para se dar uma resposta correcta.»
Além disso, a professora tinha «puxado muito» durante as aulas, e os testes feitos ao longo do ano eram «bastante mais difíceis», explica Ricardo, que se queixa apenas da maratona de provas que tem de fazer com intervalos de menos de 24 horas.
Mas se os alunos agradecem não terem saído perguntas de gramática — «o segundo grupo da prova não é uma verdadeira avaliação do funcionamento da língua, mas da capacidade de compreensão do texto», comenta Edviges Ferreira, da Associação de Professores de Português (APP) —, a opção causa algumas dúvidas aos docentes. Até porque contaria o que «é referido nos critérios de correcção oficiais».
A opção do Gabinete de Avaliação Educacional, responsável pelos exames nacionais, poderá ter que ver com a necessidade de evitar mais polémica em torno da já controversa nova Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário (TLEBS). Assim, apesar de a TLEBS não ter sido suspensa no secundário (apenas no básico, devido à existência de erros e imprecisões científicas), a verdade é que acabou por ficar de fora.
«A forma como o Ministério da Educação [ME] geriu a TLEBS foi muito atabalhoada e foram dadas orientações algo vagas. Por isso, devem ter optado por não fazer uma avaliação efectiva dos conhecimentos da gramática», afirmou à Lusa Paulo Feytor Pinto, presidente da APP, que considera que esta foi uma forma «de o ME fugir com o rabo à seringa». «O exame não avalia a maior parte dos objectivos do programa. Ficam de fora conhecimentos tão importantes como a oralidade e a gramática, o que é um aspecto muito negativo», acrescentou.
Com ou sem gramática, os alunos não deixam de ter de mostrar o que sabem e, nalguns casos, as contas às médias complicam os planos. Andreia foi a exame neste ano tentar fazer melhor do que em 2006, mas as esperanças são poucas. «Queria ir para Design de Interiores, mas as médias são muito altas». Sem «possibilidade» de recorrer ao ensino privado — ao contrário do que já decidiu a sua colega Bárbara —, equaciona alternativas, mas é ainda com um «não sei» que responde quando se pergunta o que pensa fazer depois do 12.º ano.
in Público, 19 de Junho de 2007