1. Como anunciado, a atividade do consultório tem uma pequena pausa durante os dias de Páscoa*, ficando desativado o formulário para envio de perguntas (para outros assuntos que não o esclarecimento de dúvidas, agradecemos que o contacto seja feito por aqui). Enquanto se aguarda o regresso das atualizações já em 28 de março p. f., ficam disponíveis para consulta todas as respostas e os artigos que constituem o vasto e variado arquivo do Ciberdúvidas – sempre a respeito da língua portuguesa. Por isso, a propósito do período pascal e das palavras com ele relacionadas, sugerimos a leitura das seguintes respostas e artigos: "Etimologia e significado de Páscoa", "A primavera e as estações do ano", "Etimologia de Quaresma, Pascoela...", "Feriados conhecidos pelas datas: maiúsculas e minúsculas".
* Na imagem ao lado, Ascensão de Cristo (Museu Nacional do Azulejo, Lisboa).
2. Duas situações da atualidade que põem em causa o poder de afirmação da nossa língua:
– Em Portugal, a pausa pascal leva muitos estudantes finalistas a procurarem em Espanha momentos de diversão. Em viagem, os excessos são previsíveis, pelo que a Guarda Nacional Republicana (GNR) desencadeia ações de sensibilização e fiscalização nas estradas, em especial junto às fronteiras. Uma operação mais do que justificada, com o senão do nome dado em inglês – Spring Break, vernacularmente, «intervalo de primavera» –, um absoluto contrassenso, tendo em conta os seus destinatários específicos: jovens portugueses. Pior: sendo esta, de resto, uma prática continuada da GNR na preferência anglófona da denominação destas suas operações em situações de maior tráfego nas estradas nacionais, fica em causa a responsabilidade também linguística inerente a qualquer instituição ou organismo do Estado português. Sobre este assunto, leia-se o irónico apontamento no blogue Má(-)língua, de Paulo J. S. Barata.
– Uma notícia surpreendente vem do Vaticano, onde a Cúria Romana retirou do seu elenco de idiomas oficiais a língua portuguesa. A decisão suscitou desagrado (leiam-se as declarações do cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente), sobretudo tendo em conta que, tradicionalmente, o maior país católico é o Brasil... cuja população é, em esmagadora maioria, constituída por falantes de português. Recorde-se que o novo presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, foi recebido pelo papa Francisco no Vaticano, em 17 de março p.p.; do que é possível apurar dos ecos da visita, o destino inglório na Santa Sé da língua oficial de oito países – de mais de 240 milhões de falantes no mundo, a sexta mais falada do globo, sendo a quinta mais usada na Internet e a terceira nas redes sociais Facebook e Twitter – parece não ter merecido nenhuma atenção.
3. À volta ainda do excesso de anglicismos no espaço mediático português e de algumas das razões do menor cuidado no uso da nossa língua na imprensa, a rubrica O Nosso Idioma disponibiliza o artigo Falar português – uma língua que une pátrias, um trabalho assinado pelas jornalistas Sílvia Júlio e Teresa Joel. Publicado no jornal Tempo Livre (n.º 32 da 2.ª série, fevereiro/março de 2016), da Fundação INATEL, nele se registam considerações de Guilhermina Jorge, linguista e professora da Faculdade de Letras de Lisboa, e de José Mário Costa, jornalista e cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
4. O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 25 de março (às 13h15* na RDP África; repete no sábado, 26 de março, depois do noticiário das 9h00*), dá relevo ao seminário sobre o português que o Centro Camões do King's College de Londres organiza em 29 de março p. f., com a presença das linguistas Esperança Cardeira e Alina Villava, ambas docentes na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Por seu lado, o Páginas de Português, que vai para o ar no Domingo de Páscoa, 27 de março (pelas 11h30*, na Antena 2), aborda uma notícia que intrigou e escandalizou: o Brasil retirava dos curricula do seu sistema de ensino alguns dos autores canónicos da língua portuguesa. Porque o idioma é comum, porque Camões ou António Vieira ou outras referências canónicas constituem a malha de uma referencialidade que abrange os dois países, o Páginas de Português foi em demanda das razões, dos factos e dos enquadramentos, e conversou com a professora Begmá Tavares Barbosa, assessora para a língua portuguesa da Base Nacional Comum Curricular do Brasil.
* Hora oficial de Portugal continental.