1. Falecido em 21 de janeiro, o ator João Villaret (1913-1961) foi uma figura marcante do teatro e da declamação em língua portuguesa e dos primórdios da televisão em Portugal. À distância de precisamente 55 anos, voltemos neste dia a apurar o ouvido para a sua voz talentosa, talvez para descobrir como no registo áudio já se vai apreciando algum contraste entre as palavras gravadas há (pouco) mais de meio século e a pronúncia atual. Ditos por Villaret, escutemos, pois, aqui (blogue A Nossa Rádio) alguns poemas de Fernando Pessoa (1888-1935); e três sonetos de Florbela Espanca (1894-1930), também recitados pelo ator num programa que ele mantinha nos finais dos anos 50 do século passado, na, então, chamada Radiotelevisão Portuguesa (RTP).
2. Contra essa memória de João Villaret no primado da palavra em português, e sempre tão bem dita, nas emissões da televisão pública portuguesa, é sem dúvida a opção pelo inglês nos seus mais recentes programas de entretenimento – como satiriza Luís Carlos Patraquim, no texto "Talentos e talentaços", disponível desde esta data na rubrica Pelourinho. Já no consultório, trata-se da constituição das palavras: como analisar a estrutura da palavra liberdade? Será que as palavras com o sufixo -mento se usam mais no Brasil? E extubar – existe tal palavra?
3. Registo, ainda, para o falecimento de António de Almeida Santos (1926-2016), político português, ex-ministro, ex-presidente da Assembleia da República, com um papel determinante em Portugal nos processos da descolonização (1974/1975), bem como na génese da legislação do regime democrático. Num texto publicado no Diário de Notícias, o poeta e político Manuel Alegre evoca-o como "um príncipe da República", que cultivava a língua portuguesa como poucos: «[...] foi um dos mais brilhantes oradores da nossa história parlamentar, além de jurista eminente e legislador incomparável, pode mesmo dizer-se que o grande legislador de regime democrático. Almeida Santos é tudo isso. E já se sabe que não há lei ou decreto a que ele não tenha corrigido as vírgulas e a sintaxe. Mas no mais íntimo de si mesmo ele é um escritor. Um escritor emprestado ao Direito e à Política. Um dos grandes prosadores do nosso tempo. E o que é mais raro: um escritor de ideias. [...]»
4. Diz-se que temos palavras únicas – saudade, por exemplo. Mas, se o seu suposto mistério tem, afinal, tradução (de acordo com as subtilezas de cada língua de chegada), a sua sonoridade mantém-se em modulações que vão de Lisboa ao Rio de Janeiro, do Mindelo a Maputo, de Bissau a Luanda e São Tomé. Por isso, lembramos que:
– no programa Língua de Todos de sexta-feira, 22 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 23 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), Sandra Duarte Tavares fala da diferença entre dois tempos do indicativo, o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito, distinção nem sempre acessível à intuição de quem aprende português como língua estrangeira ou não materna;
– no programa Páginas de Português de domingo, 24 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), conversa-se com Filipe Valle Costa, diretor da companhia Saudade Theatre, a primeira companhia portuguesa na «Grande Maçã», ou seja, a cidade de Nova Iorque.
* Hora oficial de Portugal continental.