Ultimamente, têm chegado ao Ciberdúvidas muitas perguntas sobre sintaxe verbal. Como se sabe, este é um tema central na descrição do funcionamento da língua, porque do verbo depende boa parte do que se passa numa frase: é ele que define o número e a selecção dos termos que irão preencher diferentes funções sintácticas, como sejam, por exemplo, as de sujeito, complemento/objeto directo e complemento preposicional.
Além disso, continuam a surgir dúvidas sobre a grafia desta ou daquela palavra, quando se trata de aportuguesar estrangeirismos. Como explicam Margarita Correia e Lúcia Lemos, o aportuguesamento aparece sempre, em maior ou menor grau, quando se importam palavras. Temos ainda recebido questões sobre a pronúncia de palavras que há muito fazem parte do nosso património vocabular, por exemplo, adrede, ressurreição, geração e aleluia.
Gostaríamos, entretanto, de fazer um pedido aos nossos consulentes: por favor, não nos enviem perguntas provenientes do Campeonato Nacional da Língua Portuguesa, organizado pelo semanário "Expresso", pelo "Jornal de Letras" e pelo canal "Sic Notícias". Se tal acontecer, não responderemos, visto não nos parecer justo intervir numa iniciativa que deverá exigir dos participantes autonomia na pesquisa em dicionários e gramáticas.
Por último, propomos a leitura do nosso Pelourinho, que, desta vez, aborda a pronúncia de siglas e abreviações. Regina Rocha lembra-nos que há características da língua que são de manter, como é o caso de Telecom, cuja sílaba final deve ser pronunciada com o som nasal [õ].
O Prémio de Crónica João Carreira Bom, relativo ao ano 2005, foi atribuído ao escritor e jornalista português Baptista-Bastos pelo conjunto das suas crónicas publicadas no Jornal de Negócios, ao longo do ano passado.
Instituído pela Sociedade da Língua Portuguesa e pelo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, com o patrocínio da Vodafone, o galardão, agora concedido pelo terceiro ano consecutivo, tem como objectivo promover este género jornalístico, em homenagem ao co-fundador deste sítio. O seu valor monetário é de 5000 euros.
O júri desta terceira edição do Prémio de Crónica João Carreira Bom foi presidido pela presidente da Sociedade da Língua Portuguesa, Elsa Rodrigues dos Santos, e composto pelo professor universitário e escritor Urbano Tavares Rodrigues e pelos jornalistas Maria José Mauperrin, Fernando Dacosta, e José Gabriel Viegas, em representação da Vodafone.
Armando Baptista-Bastos, escritor e jornalista, nasceu em Lisboa. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e no Liceu Francês. Foi profissional de jornalismo em vários órgãos de comunicação social, nomeadamente no já extinto Diário Popular. Publicou o seu primeiro romance em 1963, O Secreto Adeus, a que se seguiram outros livros de ficção, como Cão Velho entre Flores (1974), Elegia para Um Caixão Vazio (1984), A Colina de Cristal (1987), Um Homem Parado no Inverno (1991) e O Cavalo a Tinta-da-China (1995).
Cf. Eduardo Prado Coelho recebeu Prémio João Carreira Bom + Vasco Pulido Valente recebe Prémio João Carreira Bom + As três razões da Vodafone para o Prémio João Carreira Bom
A maioria das perguntas recebidas tem ultimamente incidido sobre o significado, a forma e a pronúncia de vocábulos. É habitual a pergunta: «Esta palavra existe?». Com ela, manifestam-se, pelo menos, duas preocupações: a de sermos adequados perante os nossos interlocutores, não usando formas que lhes são estranhas; e a de que o discurso tenha relevância para eles, isto é, que se mantenha em ligação com a realidade que constitui e envolve a comunicação. Os consulentes mostram assim que as palavras nos ligam à dinâmica da sociedade e do mundo.
Parte dessa realidade é a cultura em que as palavras surgem e são usadas. Uma tarefa exigente é a de ligar as palavras a uma forma originária e ao seu contexto (etimologia), repisando o caminho que tomaram até estarem hoje disponíveis para o nosso discurso. É por isso que o novo Pelourinho recorda a diferença entre cinquentenário e quinquagenário.
E assim falámos mais uma vez de presente e do passado a propósito da Língua Portuguesa, para pensarmos afinal no seu lugar no mundo, isto é, no seu futuro.
P.S. – Assinala-se neste 30 de Janeiro de 2006 quatro anos do falecimento de João Carreira Bom, a quem o Ciberdúvidas deve a sua existência. A homenagem, e a saudade, de todos os que contribuímos para a continuação deste projecto em prol da Língua Portuguesa, que ele tanto prezou em vida – até na forma superior como escrevia.
1. O Ciberdúvidas passou a dar aconselhamento linguístico à RTP e à RDP, com o apoio da Vodafone. Realce-se por isso aqui o interesse manifestado pela televisão e rádio públicas portuguesas – e em particular o seu Conselho de Administração – em dotar os seus jornalistas de uma ferramenta que, por via do esclarecimento em tempo útil das suas dúvidas, contribua para um competente domínio da Língua Portuguesa. Se hoje a modalidade de língua usada na rádio, na televisão e nos jornais é considerada por alguns como a norma, então é com certeza tempo de avaliar novas palavras, construções e variantes, decidindo quais são as aceitáveis e quais se devem rejeitar, à luz da tradição e da contemporaneidade portuguesas. E, por maioria de razão, tendo em conta o papel de referência atribuído ao operador de serviço público na defesa e promoção da Língua Portuguesa.
2. Neste contexto, há que abranger outras variedades da língua. Muitos consulentes fora de Portugal procuram-nos, mostrando assim que o Ciberdúvidas é útil e acessível para quem fala tais variedades. A nossa contemporaneidade é essa variação, que só será um futuro comum, se entre os oito países onde se fala português houver uma constante troca de palavras que permita integrar e moderar a inevitável deriva resultante do afastamento geográfico. Por outras palavras, a variação existe, mas há que encontrar, no respeito das especificidades de cada país, regularidades e usos consensuais, até para bem do ensino do Português.
3. Por isso, recordamos aqui algumas perguntas que, refle(c)tindo aspe(c)tos da identidade e da diversidade da língua, dão ao mesmo tempo expressão a muitas preocupações com ela, porque, no fundo, estamos todos a falar de um bem comum: A pronúncia de tranquilizar; A concordância de bonito como predicativo do sujeito; Sobre a forma de hífen; A locução «de manhã».
4. Por último, sugerimos a leitura do novo Pelourinho, a propósito do descuido no uso dos verbos abster e obter.
Ciberdúvidas completa nove anos de existência neste domingo, dia 15 de Janeiro. Nove anos não isentos de percalços e vicissitudes decorrentes de um projecto desta natureza – um verdadeiro serviço público, de acesso totalmente gratuito, sem fins lucrativos, como não há outro no mundo da lusofonia.
Por isso, nunca é de mais realçar as entidades que garantiram, primeiro, a sua continuação, a seguir ao falecimento de João Carreira Bom – a Universidade Lusófona, em cujas instalações passou a funcionar o Ciberdúvidas, e o portal SAPO, onde se encontra alojado; e, depois, a sua viabilização, graças aos decisivos patrocínios dos CTT e da Fundação Vodafone, desde Setembro último. Mais recentemente, o Ciberdúvidas beneficiou de um subsídio do Instituto Camões e da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação, que já antes autorizara o destacamento a tempo inteiro do professor Carlos Rocha, que tanto nos tem enriquecido com a sua competência e dedicação.
Finalmente, permita-se-nos um agradecimento muito especial a todos os nossos ilustres consultores, sem cuja generosidade e saber o Ciberdúvidas não poderia ser concretizado.
Bem hajam todos – a começar por quantos, por esse mundo fora, não dispensam, já, este espaço de esclarecimento, informação e reflexão sobre a Língua Portuguesa.
Depois das festas de Natal e de Ano Novo, regressámos com mais perguntas e respostas. Muitas continuam a centrar-se em dúvidas sobre a grafia, a pronúncia e a criação (neologia) de palavras. Por exemplo, acerca de um recente acontecimento automobilístico, recordamos que a capital do Senegal tem grafia portuguesa – Dacar.
Pensar sobre as palavras motiva, por outro lado, a questão do seu uso. Uma pergunta incide precisamente sobre o nível ou o registo de língua de expressões como uma espécie de, um tipo de , entre outras.
Também vão surgindo questões que dizem respeito ao contraste entre sistema e norma. No fundo, o que intriga alguns consulentes é a existência de irregularidades numa língua.
Assim começamos 2006, a reflectir sobre a Língua Portuguesa e a trabalhar para a sua afirmação.
Depois da tradicional pausa do Natal, Ciberdúvidas volta às suas actualizações diárias, de segunda a sexta-feira. Que este novo ano de 2006 traga o melhor à língua portuguesa são os votos que aqui deixamos expressos.
Permita-se-nos ainda partilhar com quem nos consulta esta boa notícia: o Ministério da Educação português, através da Direcção-Geral da Inovação e do Desenvolvimento Curricular, decidiu atribuir um apoio oficial ao Ciberdúvidas, em reconhecimento do papel deste projecto em prol da língua portuguesa – o primeiro do género, em nove anos de existência, completados exactamente no próximo dia 15.
Apresentamos os nossos agradecimentos à ministra Maria de Lurdes Rodrigues e aos responsáveis da Direcção-Geral da Inovação e do Desenvolvimento Curricular, que formalizaram este apoio.
A criação de novas palavras é uma necessidade que a realidade impõe a qualquer língua. Exemplo disso, é o facto de o cargo de chanceler da República Federal da Alemanha estar actualmente ocupado por uma mulher, o que motiva a criação de “chancelerina”, forma feminina de chanceler. Alguns dos nossos consultores comentam o neologismo.
Mas a língua, reagindo contra o tempo, reflecte também as concepções e os modos de vida de uma cultura, inscritos nas mentalidades por essa segunda natureza que é a força da tradição. Nesse contexto, uma consulente pergunta se a gramática é afinal machista, já que a forma dicionarizada é normalmente o masculino. Porque não o feminino?
E o futuro da língua, qual é ele? Os nossos consulentes interrogam-se. O Acordo Ortográfico de 1990 será revisto? Será ratificado? Vai ser aplicado?
Entretanto, a realidade é que o tempo passa e chegamos a mais um Natal. Por isso, e como é tradição, fazemos uma pausa nas actualizações do Ciberdúvidas, para as retomar no próximo dia 2 de Janeiro de 2006.
Feliz Natal e bom Ano Novo.
1. Congratulamo-nos com a notícia de que o Ministério de Educação de Portugal já não vai retirar o Português do conjunto de exames obrigatórios para conclusão do Ensino Secundário (12.º ano). A decisão foi tomada na sequência do parecer desfavorável do Conselho Nacional de Educação a uma proposta de alteração. Recordamos que esta ia no sentido de apenas realizarem este exame os alunos que frequentassem o curso de Língua e Literaturas, os quais, como se sabe, constituem uma minoria. Quando todos reconhecem em Portugal que os alunos que chegam à nossas faculdades mostram ainda lacunas graves no domínio da língua escrita e falada, seria de toda a inoportunidade dispensar a grande maioria dos jovens portugueses de uma prova de língua materna.
2. Relativamente às respostas que nos vão chegando, gostaríamos de manifestar a nossa satisfação pelo grande número de consulentes do Brasil, que em muito têm contribuído para a reflexão sobre esta nossa língua comum. Apesar das diferenças – que necessariamente existem em qualquer língua, ainda mais se ela tem uma dimensão intercontinental –, é-nos grato assinalar esta presença atenta.
3. A propósito das diferenças do Português de Portugal e do Brasil, voltou a falar-se por estes dias do "congelado" Acordo Ortográfico, como se pode ler nas Notícias Lusófonas.
4. Uma chamada de atenção, ainda, para um novo Pelourinho, que reata a discussão à volta de uma pergunta já tradicional nesta época do ano, o plural de Pai Natal. Se tem dúvidas, descubra aqui.
5. Por último, lembramos que no Correio se encontram achegas, pedidos de esclarecimento e observações de muitos consulentes sobre temas que não estão directamente no âmbito da discussão do funcionamento linguístico. Sugerimos a leitura de duas mensagens: “Imolar e emular” e “Dificuldade de leitura em textos narrativos”.
1. Devido ao feriado de 8 Dezembro, em Portugal, Ciberdúvidas só fará nova actualização na próxima segunda-feira, dia 12.
2. Das perguntas entretanto recebidas, destacamos as de sintaxe e de semântica, as quais continuam a suscitar o interesse de muitos consulentes.
3. Uma chamada de atenção para o novo Pelourinho, desta vez sobre o projecto que, em Portugal, levará a retirar o Português dos exames de grande parte dos alunos finalistas do Ensino Secundário (12.º ano).
4. Deixamos ainda um apelo, feito por uma nossa consulente de S. Carlos (S.Paulo, Brasil).
5. Embora sem relação directa com o âmbito do Ciberdúvidas, não quisemos deixar de noticiar o lançamento do livro O Terramoto de 1755. Lisboa e a Europa, de Ana Cristina Araújo. Com edição dos CTT - Correios de Portugal, e inserida nos recém-assinalados 250 anos do grande cataclismo que abalou a capital portuguesa, esta excelente obra constitui uma óptima oportunidade para se compreender as suas repercussões no pensamento europeu da época, ao mesmo tempo que redimensiona o papel do Marquês de Pombal na reconstrução de Lisboa, em moldes ainda hoje considerados revolucionários nos meios da arquitectura e do urbanismo.
6. Para terminar, chamamos a atenção para a mais recente controvérsia, aqui no Ciberdúvidas. Diz-se «o candidato passei a ser eu» ou «o candidato passou a ser eu»?
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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