«(...) e quem não queria uma língua dentro da própria língua?
eu sim queria,
jogando linho com dedos, conjugando
onde os verbos não conjugam
(...)»
Herberto Helder, A Faca não Corta o Fogo – Súmula & Inédita, Lisboa, Assírio & Alvim, 2008, págs. 572/573*
Morreu Herberto Helder (1930-2015), se não o maior, um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX. Pouco dado à exposição mediática, Herberto Helder criou uma obra que reiteradamente subverte a língua pelo poema e pela escrita: «[o poema] erra-a [a língua], desfigura-a e amplia-lhe os jeitos, enxerta-lhe novos possíveis discursivos; reinventa-a: reforja o léxico e as relações vocabulares; perturba as formas e os ritmos sintácticos; produz imagens e figuras no regime alucinatório das iluminações e das radiações, que ferem a língua e rasgam a boca e os céus demasiado serenos da significação pré-definida» (Nuno Júdice, "As fronteiras do poético na poesia de Herberto Helder", Diacrítica, 2009, pág. 143). De entre o muito que se tem publicado a propósito deste autor, propomos uma peça do jornal Público, na qual o ator Luís Miguel Cintra diz o poema Lugar (in Poesia Toda) – para ver e (sobretudo) ouvir aqui. Deixamos ainda a ligação para algumas reações ao falecimento de Herberto Helder: "O melhor que disseram de mim foi quando estiveram calados"+"Uma energia cósmica" + "Herberto Helder: as reações à partida do `mestre´" + "Morreu Herberto Helder, a voz mais fulgurante da poesia portuguesa" + "Arnaldo Saraiva: um `mago da palavra que tira magia em tudo que toca´" + "Herberto Helder, o poeta".
* Citado por Rosa Maria Martelo, "Em que língua escreve Herberto Helder?", Diacrítica, 2009, pág. 164.
Uma ferida impiedosa nas convenções foi também a publicação da revista Orpheu há 100 anos, abrindo uma nova era para a língua portuguesa literária. A efeméride é marcada pelo Congresso Internacional do Centenário do Orpheu, cujos trabalhos se realizam sucessivamente em três cidades: Porto (19 de março), Lisboa (de 25 a 27 de março) e São Paulo (de 25 a 28 de maio). Outras iniciativas assinalam este centenário, sendo de realçar a mostra "Orpheu acabou. Orpheu continua" e a exposição "Os caminhos de Orpheu", organizadas pela Biblioteca Nacional de Portugal, onde também se encontram patentes ao público.
O Nosso Idioma disponibiliza novas crónicas do jornalista Edno Pimentel sobre questões dos usos do português em Angola: desta vez, os temas são o uso de pegado em referência a notas e a forma "memo", variante incorreta do advérbio mesmo. No consultório, são tópicos das novas respostas o galicismo régie, o gentílico da vila de Alvor (Algarve), a locução «pelo que», a expressão «fora que», bem como a forma câimbra, variante gráfica de cãibra.
O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 27 de março (às 13h30*, na RDP África; com repetição no dia seguinte, 28 de março, às 9h10*), tem como convidado o presidente do Movimento Internacional Lusófono, Renato Epifânio, para falar do 3.º Congresso da Cidadania Lusófona. E no programa Páginas de Português – domingo, 29 de março, às 17h00*, na Antena 2 –, a propósito do Dia da Língua Portuguesa que foi assinalado em Margão, no Parvatibai Chowgule College, dá-se destaque à situação, hoje, do português em Goa – com uma conversa com o leitor do Instituto Camões Delfim Correia da Silva; e ainda com um depoimernto da investigadora Dulce Pereira, sobre os crioulos asiáticos de base lexical portuguesa.
* Hora oficial de Portugal continental, ficando também disponível via Internet, nos endereços de ambos os programas.
A Ciberescola da Língua Portuguesa e os Cibercursos apoiam a disciplina de Português (como língua materna e língua não materna) com a produção de materiais didáticos, de acesso livre; e vão ao encontro dos alunos estrangeiros que querem aprender o idioma (Portuguese as a Foreign Language). Mais informações no Facebook e na rubrica Ensino.