A deficiente articulação numa canção do músico angolano Paulo Flores, nesta crónica do autor, publicada no semanário luandense Nova Gazeta, de 12/03/2015 – e onde, a par, se enunciam vários casos de mulheres que mudaram as nossas vidas.
Por isso é que os ‘mais velhos’ aconselham sempre a respeitar as mulheres. Reza a história que fazem parte de nós, não apenas por partilharem o mesmo espaço geográfico-social. O assunto aqui é bem mais forte, é de carne e de osso, pois vieram da nossa costela – sem comentários.
A elas devemos muito. Só para minimizar, graças a elas – as mulheres – as nossas casas são seguras com as câmaras de videovigilância. Foi a norte-americana Marie Van Brittan Brown quem inventou este útil aparelho. A partir de 1908 passou a ser possível coar o café porque Amalie Auguste Melitta Bentz, da Alemanha, criou o primeiro filtro de café, o coador. Hoje fazemos transferência de fotos, vídeos, músicas e de outros ficheiros via Bluetooth porque usamos essa tecnologia criada por Hedy Lamarr, da [Áustria].
O que seria de nós se, em 1899, Letitia Mumford Geer, dos Estados Unidos, não criasse a seringa dos médicos? Isso só para não falar de como seria a nossa condução e tempos de chuva sem o limpa para-brisas inventado por Mary Anderson. Elas dão-nos solução para quase tudo. Quem é a mãe que hoje não use fralda descartável para os seus filhos? Foi a nova-iorquina Marion Donovan quem a inventou. Merecem ou não os nossos aplausos? Todas!
É por tudo isso que, provavelmente, quando não são bem tratadas ou eles não cumprem devidamente o seu papel, muitos homens – como o músico Paulo Flores – se sentem praguejados.
Desde que a ‘esposa’ se foi embora, a vida do músico passou a ser um ‘inferno’. «O quadro (eléctrico) queimou; o pneu do carro furou; o mano Mingo baicou (= morreu); passou a comer mal...» e «deixou de ir ao Marçal visitar os amigos». «Eu acho memo fiz mal», lamenta o cantor na música ‘Cadê meu amor’.
Mas ele ainda pode recuperar a ‘esposa’ e o fonema /j/ da palavra ‘mesmo’, representado graficamente pela letra ‘s’, e que muitos angolanos perderam, tornando-a numa forma (‘memo’) popular.
Quem quiser estar na pele do cantor deve mesmo comportar-se bem, em vez de lamentar “memo” quando não está certo perante todas as mulheres que só nos fazem muito bem. Feliz Março, Mulher!
Texto publicado no semanário luandense "Nova Gazeta", no dia 12 de março de 2015, na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.