1. A inovação linguística continua a estar na ordem do dia. Cada nova vivência, cada nova realidade busca uma palavra ou expressão que a diga. Desta vitalidade vamos dando conta no A covid-19 na língua, que, nesta atualização, passou a integrar os termos inovar e robustez. Apesar de a língua ter maleabilidade suficiente para integrar novos lexemas e novos significados, há palavras que parecem estar a resistir a incorporar no seu campo semântico novas aceções, como mostra a estranheza que produzem afirmações como «Vou-me mascarar para ir ao supermercado» ou «Quando chegares a casa, desmascara-te», no contexto do atual uso obrigatório de máscara. É a tensão lexical que por vezes se cria entre as palavras e a realidade e entre os velhos e os novos usos que motiva o apontamento da consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques, intitulado «O novo normal vem mascarado».
2. Na nova atualização do Consultório, uma questão parece desvelar um fenómeno de hipercorreção: estará correto dizer «o texto fala de» ou «o livro fala sobre»? Há, por outro lado, questões que procuram a forma correta: deve dizer-se «há fadista» ou «ah, fadista»? E o adjetivo atento, usado em expressões como «atento o parecer», tem forma feminina se acompanhar um nome no feminino? Por fim, uma questão que pretende identificar a classe de então na expressão da lógica proposicional «Se P, então Q».
3. A língua portuguesa procura a sua afirmação no mundo. Neste âmbito, uma das perspetivas a adotar é a de que o português é pluricêntrico e não bicêntrico (ou seja, apenas centrado no português europeu e no português do Brasil). Defendendo esta visão do fenómeno, a professora e presidente do Conselho Científico do IILP Margarita Correia convida-nos a refletir sobre a importância da mudança de mentalidades para o fortalecimento desta nossa língua de oito países, na sua crónica semanal publicada no Diário de Notícias (aqui transcrevita com a devida vénia).
4. O contacto entre línguas desencadeou, ao longo dos séculos, fenómenos de interferência tanto na língua dominante como na(s) dominada(s). Incidindo sobre este fenómeno, o escritor angolano João Melo recorda, no artigo «A influência africana na língua portuguesa», vários casos de empréstimos lexicais ou de influência fonética que se manifestam sobretudo na variante do português do Brasil e que têm origem nas línguas bantas africanas (texto publicado originalmente no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).
5. O mundo e a forma como está concebido têm um dos seus pilares estruturantes na comunicação escrita. Todavia, existe, ainda, uma camada da população que não sabe ler nem escrever. As pessoas que a integram são, não obstante, detentoras de outros saberes, por vezes seculares, que importa preservar e conhecer. É esta a missão do realizador e documentarista Tiago Pereira, fundador do projeto A música portuguesa a gostar dela própria, que, em contexto de isolamento social, decidiu filmar à janela algumas músicas portuguesas cantadas por pessoas que preservam este património popular (vídeos divulgados no P3, secção do jornal Público). Veja-se, por exemplo, o vídeo onde Maria da Alzira canta «Não cortes o teu cabelo».
6. A desejável manutenção do isolamento social continua a motivar propostas culturais que podem ser seguidas no conforto do lar. É o caso da minissérie Os Maias, exibida em 2001 pela Rede Globo, que pode ser recordada no Youtube (disponível aqui). No mesmo sentido vai a proposta da Companhia de Teatro de Almada, que divulga esta semana a peça de 2010, Tuning, de Rodrigo Francisco, encenada por Joaquim Benite.
7. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa teremos os seguintes temas: Língua de Todos contará com a presença da professora Sandra Tavares Duarte, que falará sobre particularidades do português (transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 15 de maio, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 16 de maio, depois do noticiário das 09h00*) e o Páginas de Português, emitido pela Antena 2, entrevista Rita Faden, presidente da FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento), a propósito do protocolo de cooperação entre a FLAD e o Instituto Camões para reforçar o estudo, ensino e investigação da língua e cultura portuguesas nos Estados Unidos da América e aumentar o acesso à programação e avaliação curricular em Língua Portuguesa (no domingo, 17 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 23 de maio, às 15h30*).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.