O mirandês, não sendo um dialeto do português, constitui parte importantíssima do património linguístico de Portugal. Foi sobretudo com José Leite de Vasconcelos (1858-1941) que os portugueses foram descobrindo e valorizando essa dimensão da diversidade linguística da região de Trás-os-Montes. Outras figuras se seguiram na tarefa de divulgar e promover o mirandês, mas, nas últimas décadas, Amadeu Ferreira contava-se entre aqueles que mais contribuíam para a afirmação deste idioma na contemporaneidade, com o estatuto de segunda língua oficial de Portugal. É, portanto, com enorme pesar que se regista o seu desaparecimento prematuro, em 1/03/2015. Amadeu Ferreira deixa uma obra extensa quer aos mirandeses quer aos portugueses em geral, mas dele fica ainda a memória de um enorme talento para cativar diferentes audiências pelas coisas da Terra de Miranda – a começar pelos jovens nas escolas.
De uma nota bilingue, intitulada "Nacimiento de Cousas Nuobas"/ "Nascimento de Coisas Novas", que a família de Amadeu Ferreira enviou à agência Lusa, transcreve-se a seguinte citação do último livro deste autor, Belheç/Velhice, publicado sob o pseudónimo Fracisco Niebro:
Hai un tiempo para nacer i un tiempo para un se morrer.
L'alma nun puode bolar pa l cielo. Senó, cumo podien nacer cousas nuobas? Essa ye la rucerreiçon de las almas: son bidas nuobas. Son bichicos, arbicas i todo l que bibe.
Ye por esso que fázen mui mal an anterrar las pessonas ne l semitério: habien de las anterrar pul campo para ajudar las almas a nacer. Assi, Dius, seia quien fur, ten muito mais trabalho.
A tradução em português encontra-se na referida nota à imprensa, também disponível na rubrica Notícias – onde se dá conta, igualmente, das iniciativas de homenagem à memória de Amadeu Ferreira, previstas para a presente semana.
Existe o nome próprio feminino Afonsa? Qual é o tratamento formal de um sacerdote católico? Pode um pseudónimo no singular desencadear a concordância no plural? Que forma empregar: Sarajevo ou Saraievo? «Acartar com alguma coisa» é uso incorreto? São estas as novas dúvidas chegadas ao consultório.
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