O morfema que assume apenas, do meu ponto de vista, um valor explicativo. A conjunção subordinativa porque é que pode ter um valor explicativo ou um valor causal.
Galán Rodriguez (1999)*, uma das autoras que se têm debruçado sobre esta matéria, apresenta a seguinte distinção:
– Orações causais puras (A porque B)
Ex.: Faltei à reunião porque estive doente
– Orações causais explicativas (A, porque B)
Ex.: A menina deve estar triste, porque está a chorar.
Segundo a autora, as orações causais puras apresentam uma relação de causa-efeito entre as duas orações, em que a oração «porque estive doente» dá origem ao estado de coisas descrito na oração «Faltei à reunião”» Estamos, assim, perante a enunciação de uma causa que expressa um facto real. As orações introduzidas pelo porque causal fornecem sempre uma informação nova e podem ser deslocadas para outra posição: «Porque estive doente, faltei à reunião.»
As orações causais explicativas, por sua vez, apresentam um facto B que, no juízo do locutor, pode ser uma explicação razoável ou apropriada do facto A, com base num raciocínio prévio. Assim, nestas orações, não é expressa uma causa, mas, sim, uma dedução do locutor pelo que observa e pelo seu conhecimento do mundo: é normal e habitual alguém estar triste quando chora. As orações introduzidas pelo porque explicativo não podem sofrer qualquer movimento (o asterisco indica agramaticalidade): * «Porque está a chorar, a menina deve estar triste.»
* Galán Rodríguez, C. 1999. "La subordinación causal y final". in I. Bosque & V. Demonte, orgs. Gramática Descriptiva de la Lengua Española. Espasa, Madrid; vol. 3, cap. 56.