Tal como está construída, a frase tem uma construção relativa que é ambígua: o que simboliza a vontade das pessoas? Só os cartões, ou também as garrafas? Pelo conhecimento que temos do mundo (o cartão vermelho é ordem de expulsão do jogo), somos capazes de dizer que a expressão «cartões vermelhos» é que determina a referência do pronome relativo que. Será talvez esta a leitura pretendida por quem escreveu a frase. Mas, visto o pronome que remeter para uma pluralidade, como aponta o verbo da oração relativa («simbolizam»), e o constituinte «garrafas de vidro» estar coordenado com «cartões vermelhos», toda a estrutura de coordenação «garrafas de vidro e cartões vermelhos» pode ser também tomada globalmente como antecedente desse pronome relativo, juntando assim uma nota de violência física, como passagem ao ato, dificilmente conciliável com a natureza mental do símbolo. Sendo assim, interpretada no contexto da agitação social que se verifica em Portugal em consequência da crise financeira, essa ambiguidade frásica, provavelmente não intencional, pode ser aproveitada com intuito polémico, no sentido de implicitamente acusar a notícia de escamotear a gravidade de certos atos lesivos da integridade física de outrem; com efeito, o ato de arremessar garrafas passa paradoxalmente por símbolo, quando na verdade se trata de um meio de agressão bem concreto, usado com a finalidade de atingir as forças policiais.
Seria, pois, melhor dar outra redação à frase, de modo a evitar a referida ambiguidade; por exemplo:
«Para dentro do perímetro policial foram arremessadas garrafas de vidro e atirados cartões vermelhos, estes como símbolo da vontade das pessoas em mandar o Governo para a rua.»