No âmbito da tradição de ensino da gramática no ensino básico e no secundário de Portugal, uma família de palavras era, conforme definição de J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira, no Compêndio de Gramática Portuguesa (Porto Editora, 1976, pág. 316), um conjunto de palavras que se formam de uma mesma palavra primitiva: dizia-se assim que à família de palavras de justo, pertenciam injusto, ajustar, reajustar, justiça. Além disso, estes autores consideravam que a identificação de uma família de palavras abrangia também o vocabulário que «tem um elemento comum, geralmente monossilábico, chamado raiz: amar, amigo, amizade, raiz: am-», admitindo a forma da raiz algumas variações fónicas, como no caso do conjunto constituído por justo, injusto, ajustar, reajustar, justiça, etc., a qual inclui ainda jura e juramento, «visto que há nelas a raiz jus-, embora o s > r» (ibidem).
Na actualidade, o Dicionário Terminológico, criado para apoio do estudo da gramática no ensino básico e no secundário, não se afasta muito da perspectiva anterior, quando define família de palavras como «conjunto das palavras formadas por derivação ou composição a partir de um radical comum», dando como exemplo o conjunto formado por mar, maré, marítimo, marinheiro, marina, que partilham o mesmo radical, mar-.
Tendo em conta as definições apontadas, que são, de certo modo, convergentes, diga-se que os vocábulos judicial e justiça pertencem à mesma família de palavras, uma vez que o primeiro tem também relação com o radical jus-. Com efeito, etimologicamente, judicial tem origem no «lat[im] judiciālis, "relativo a juiz, a justiça; estilo ou género retórico referente a acusação, defesa e proclamação de sentença no processo jurídico"» (Dicionário Houaiss), por sua vez, derivado de judĭcium, ĭi, «julgamento» (idem). Ora, o radical de judĭcium, judic-, é o mesmo que se depreende de jūdex, ĭcis, «o que diz o direito, juiz», que deu juiz em português, e se analisa como um radical em que se amalgamam jūs, jūris, «direito, justiça», e -dex, do radical do verbo dicĕre, «dizer» (idem). Esta explicação histórica pode ser substituída por uma visão sincrónica segundo a qual o radical jus- tem os alomorfes jur- (juro, jurista, jurídico), jud- (judicial, judiciária, judicativo) e ju- (juiz).