A par dos humanistas seus contemporâneos, Camões é um dos que melhor recuperam a cultura greco-latina, seja em formas poéticas revisitadas, seja na dignificação do maravilhoso pagão em que também se apoia a sua épica. Conceitos de 'inspiração' (do Íon platónico) ou de mimese (imitação) aristotélica são igualmente aproveitados por quem acredita no Homem como medida das coisas. Esta crença, obscurecida em certos sonetos e canções ou, mesmo, em partes d'Os Lusíadas (donde falar-se num Camões maneirista), acompanhava a descoberto de novos mundos, o que aos portugueses grandemente se deve, e foi superiormente cantado pelo Poeta. Há, nele, lugar para a experiência e, se o respeito pelo antigo não esmorece, já a afirmação do saber experimental (aquele «vi claramente visto»), da vitória dos homens sobre os elementos, é a outra face de um processo, pessoal e colectivo, em que gregos e latinos também se inscrevem por terem sido vencidos, no canto épico e em feitos, por seus filhos civilizacionais. É nesta herança que se conforma o Renascimento e, concretamente, um Camões, capaz de unir a mitologia pagã e a cruzada da Fé católica na figura de um herói ao serviço, não de si mesmo, mas da nação e do seu rei.