As mortes e toda a tragédia à volta de uma guerra – como a que está a devastar o Líbano – voltaram a ser qualificadas de "humanitárias", lado a lado com o seu contrário (os corredores que a ONU e as organizações internacionais tentam preservar para auxilio dos refugiados, esses, sim, humanitários).
A generalização do erro – por arrastamento, até, do “humanitarian” inglês, com o mesmo significado do nosso humanitário («que visa o bem-estar da humanidade», «em prol da humanidade», «que tem sentimentos de humanidade», «filantrópico») — resulta nesse absurdo de se qualificar indistintamente palavras com um valor semântico antagónico.
Para a descrição dos efeitos de uma guerra (ou de um qualquer cataclismo natural) a palavra adequada é humano, que significa «relativo ao homem», «próprio do homem». Portanto, catástrofe humana, tragédia humana, situação humana catastrófica , caos humano – assim como se disse e escreveu sempre desgraça humana, miséria humana, sofrimento humano, etc., etc.
O que se faz em prol da paz entre beligerantes, em apoio às populações vítimas das guerras ou de um terramoto é que é humanitário. Logo, iniciativa humanitária, missão humanitária, etc.