Na Galiza se digladiam ainda duas posições quanto à normalidade da língua portuguesa do povo galego lusófono: uma lusófona/lusógrafa e outra hispanófona/hispanógrafa; o ditador Franco, antes de falecer, deixou instituída a monarquia na pessoa do chefe de Estado Juan Carlos de Bourbon e, daí, se derivaram influências nefastas para a normalização das línguas não castelhanas do Estado espanhol: português da Galiza, basco, catalão.
Destarte, a chamada transição democrática, que instaura a monarquia espanhola actual, não permitiu que o português da Galiza, seguindo as peugadas das Irmandades da Fala, de Vilar Ponte, Castelão, Carvalho Calero, Guerra da Cal ou Rodrigues Lapa, Lindley Cintra ou Celso Cunha, etc., fosse normalizado, seguindo o padrão português de Portugal, como seria o natural, pois a língua é a mesma a sul e norte do Minho, como reconhecia já Huber, Piel, Coseriu, etc.
Para Rodrigues Lapa os Galegos deviam aceitar o português que se oferecia em salva de prata, para sair da rusticidade e isolamento que supunha durante mais de 500 anos não ter havido escola na língua portuguesa da Galiza, senão só em castelhano.
Mas acaba, na monarquia, por falta de liberdade e democracia, impondo-se os critérios da hispanofonia/hispanografia para o português da Galiza, construindo-se assim por elaboração (ausbau) um portunhol, que impõe o chamado Instituto de la Lengua Gallega à Real Academia Gallega, e, a partir daí, o conselheiro ou ministro Filgueira Valverde por decreto, de costas voltadas ao Parlamento, em 17 de Novembro 1982, instaura o portunhol 1 de ILG/RAG (Instituto de la Lengua Gallega/Real Academia Gallega) oficialmente.
As normas ortográficas e morfológicas da língua galega de 1982 vão endereçadas à desagregação da língua portuguesa na Galiza, a que fala o povo lusófono galego, e castelhanizam a língua da lusofonia na Galiza. Ainda AGAL (Associação Galega da Língua) cria, também por elaboração (ausbau), outra norma do portunhol 2, em que, plagiando gramática portuguesa, verbos, léxico, etc., desnaturaliza a língua portuguesa, criando o portunhol 2, com traços medievais. Nos dois casos se o substracto é português, o adstracto é espanhol, e vinca o espanhol sobre o português em toda a parte, atentando-se conscientemente contra a unidade estrutural da língua portuguesa, tanto num sentido diacrónico como sincrónico.
Mas em 1985 é constituída em Ponte Vedra, sob a presidência do prof. Doutor Fernando Alves Cristóvão, o prof. Doutor Carvalho Calero e o prof. Doutor Luís Polanah, a Comissão Galega do Acordo Ortográfico e, através nomeadamente das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, Associação de Amizade Galiza-Portugal, etc., vai ser implementada a linha da lusofonia/lusografia, de maneira a conseguir que a Galiza intervenha na negociação dos Acordos Ortográficos da Língua Portuguesa, solicitando os Galegos que intervenham também os PALOP no processo de uniformização da língua da lusofonia.
Com efeito, em 1986 realiza-se o Encontro da Uniformização da Língua Portuguesa, de que sairá o primeiro Acordo Ortografia Simplificada, que levanta grande celeuma em Portugal e em 1990 realiza-se o Encontro da Unificação da Língua Portuguesa de que sairá o actual Acordo Ortográfico de Unidade da Língua Portuguesa, ainda sem implementar.
Aí a língua portuguesa da Galiza, que na Gramática do Português Contemporâneo de Cintra e Cunha, aparece na epígrafe de dialectos galegos, com os portugueses e brasileiros, acaba por ter uma ortografia portuguesa e uma ortofonia lusófona; a língua da Galiza se faz língua da lusofonia, a par das outras variantes do mesmo diassistema: português e brasileiro, seguindo a linha de força do Acordo Ortográfico, em defesa da superior unidade da língua portuguesa no mundo, como 2ª língua românica e 3ª europeia de cultura, a seguir ao inglês e ao espanhol.
É nessa luta que andam os lusófonos galegos, contra o portunhol 1 e 2, que desnaturalizam e castelhanizam a nossa língua portuguesa, submetendo-a à órbita do espanhol.
É certo que a língua é a mesma a norte e sul do Minho, e, por isso, deve ter a mesma ortografia, sintaxe, léxico, fonologia, etc. e deve eliminar-se que a norte do Minho se castelhanize e a sul fique naturalmente portuguesa, porque a mesma língua histórica, como diria Coseriu, galego-portuguesa, com o evoluir dos tempos ficou em portuguesa, pela acção do renascimento, e na Galiza ficou ágrafa e proibida, durante mais de 500 anos.
A solução de futuro para a língua portuguesa na Galiza passa pela implementação do Acordo Ortográfico, eliminando o diferendo luso-brasileiro, e por uma Dicionarística comum e uma Terminologia comum a fim de reforçar a unidade estrutural da Língua Portuguesa no mundo. Os lusófonos galegos tudo faremos para envidar esforços nesse sentido, de maneira a conseguir que a língua portuguesa da Galiza unida à de Portugal, Brasil, PALOP, Timor, etc. se mantenha no futuro com esplendor e riqueza de língua opulenta e subtil (Pessoa) e extensa e útil (Castelão).