Texto do consulente João Pimentel Ferreira, que no-lo enviou no seguimento do que aqui foi anteriormente publicado, da autoria de Luís Carlos Patraquim, glosando no mesmo registo satírico a contaminação de anglicismos... para tudo e para coisa nenhuma, em Portugal.
O Paulo é controller numa empresa com um elevado ranking. A empresa surgiu como spin-off de uma que fazia IT consulting para um banco que por sinal aplicava spreads muito altos porque nunca tinha budget suficiente!
O Paulo trabalha em outsourcing! De manhã vai ao ginásio e faz body fitness e por vezes faz body contact ou também body pump. Veste o fato e gravata, sai do ginásio entra no carro e liga o rádio. A RFM passa I want to live in Ibiza, na M80 ouve-se Born in the USA e a comercial passa Lady Gaga. Passa para a TSF e repara que as top 10 do Dow Jones mudaram!
Chega ao trabalho e vê que o laptop está avariado! Telefona a um expert que vê num site, envia um mail através de um link, este diz-lhe que ou é hardware ou software. Se for hardware só pode ser da motherboard, se for software deve ser algum trojan ou algumas cookies que fez download através de um browser.
Tem um feeling que o controle da equipe é difícil para se manter o know-how. Reúne-se para um brainstorming e concluem que precisam de mais workshops e melhor marketing. Compram uns scanners, fazem uns flyers, e têm que os distribuir, mas refere off the record que precisam de muito low-profile!
Sai do emprego e vê-se como freelancer num atelier de design. Almoça num franchising de fast food na happy hour porque tinha visto num out door de uma empresa de catering. Faz um pequeno briefing do que precisa, vai a um shopping com lojas low-cost e como recompensa recebe um voucher que só pode usar online.
Liga o laptop, e através do chat diz ao patrão que tem um background notável e que espera algum feedback da proposta que lhe enviou. Ri-se seriamente e tecla lol! Diz ao patrão que o marketing da empresa sempre respeitou o copyright! Faz logout, vai à net e vê uns carros a diesel e reserva um test drive.
Sai à noite para um pub, chama o garçon e pede um whisky. Ouve-se jazz e blues. Senta-se à sua frente um gay inglês, cantam karaoke, conversam um pouco e o Paulo diz que precisa de algum input. Fazem check-in para um duplex num hostel e activam uma jukebox que toca Nikita de Elton John. Salvam numa pen os ficheiros de um torrent para fazer backup, e usam-nos com uns joysticks para jogar online.
No fim, chama o staff do hotel, tomam um drink e refere que o seu slogan é “Yes, we can!”.
Atentamente.
N.E. – (25/02/2017; correção em 1/3/2017) Outro anglicismo que prolifera nas redes sociais é o termo hater, do verbo inglês to hate («odiar», em português), usado para se manifestar desagrado contra alguém que escreva coisas reprováveis. Para o castelhano, a alternativa proposta pela Fundação para o Espanhol Urgente (Fundéu/BBVA) foi a palavra odiador – forma igual à do vocábulo já adotado no Brasil. Outras alternativas possíveis, que são a transposição para o português das soluções castelhanas da Fundéu: antipatizante, inimigo, detrator, difamador ou maldiciente, por exemplo.
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