Ambos os verbos aparecem no Dicionário Prático de Regência Verbal de Celso Luft, Editora Ática, S. Paulo, com o pronome como opcional, o que leva a crer que a versão sem pronome, embora pouco comum, não é recente.
O uso não pronominalizado destes verbos suscita, porém, uma questão interessante, pois o pronome é uma partícula apassivante. Repare-se nas frases seguintes:
(1) «O grupo repete o concerto amanhã.»
(2) «O concerto repete-se amanhã.»
(3) «O concerto é repetido amanhã.»
(4) «O concerto repete amanhã.»
(5) «O presidente inaugura a exposição.»
(6) «A exposição inaugura-se amanhã.»
(7) «A exposição é inaugurada amanhã.»
(8) «A exposição inaugura amanhã.»
Se virmos bem, o concerto ou a exposição não são entidades agentes que possam repetir-se ou inaugurar-se. São, antes, entidades passivas, que sofrem a acção de uma outra entidade, a qual pode ser omitida na escrita, mas que é recuperada pelo conhecimento que temos do mundo.
Por isso, tal como o consulente, eu também sinto as frases (4) e (8) como menos adequadas, precisamente porque o verbo ali tem, pelas características do sujeito que lhe está associado, um valor passivo. Este aspecto evidencia uma espécie de voz média, em que um verbo conjugado na voz activa tem valor passivo e, que não sendo inexistente no português, é pouco frequente. Quando o verbo pode ter valor activo se o sujeito mudar, a situação é ainda mais estranha, sem, todavia, ser incorrecta.