As vírgulas são como o sal: pedem moderação. Antes a menos do que a mais. A primeira coisa a saber de uma vírgula é que é pausa pequena. Separa elementos de uma oração. Separa orações entre si. Mas nunca separa o sujeito e o verbo. P.ex., se «o Pedro vai bater no Diogo», o melhor para o Diogo é colocar uma vírgula entre o verbo e o Pedro. Vê? O «Pedro, vai bater...». Mas já não bate. A vírgula fê-lo tropeçar.
Socorrendo-me da «Guia Alfabética de Pontuação», de Rodrigo Sá Nogueira (Clássica), e do «Prontuário da Língua Portuguesa», de Manuel dos Santos Alves (Universitária), tentarei exemplificar algumas regras gerais:
A vírgula separa elementos com idêntica função sintáctica dentro de uma oração. Assim: «Incivilizados, irresponsáveis, ignorantes, os "aceleras" fazem de Portugal o campeão europeu das mortes na estrada.» Mas, se nesta construção utilizarmos um "nem", um "ou", um "e", temos de tirar uma vírgula: «Os "aceleras" fazem de Portugal o campeão europeu das mortes na estrada», porque são incivilizados, irresponsáveis e ignorantes.»
A delimitação do vocativo é um dos casos em que se não pode dispensar a vírgula. P.ex., «Ó "aceleras", porque não aprendeis o Código da Estrada?» ou «Porque não aprendeis, ó "aceleras", o código das boas maneiras?
Convém não esquecer as vírgulas quando utilizar conjunções como todavia, contudo, porém: «Os apelos à prudência multiplicam-se. Grande número de condutores, todavia, não os ouve.» Se tiver dúvidas quanto a uma v. ou um acento, escolha o mal menor: não ponha. Nestas situações, o menos mau é pecar por defeito.
MEA CULPA
A argumentação do professor Neves Henriques é eloquente e, tanto quanto me parece, original: a vírgula pode coincidir com uma pausa de leitura, mas não indica, forçosamente, uma pausa pequena ou grande. Delimita orações e elementos de uma oração. Para orientar a leitura de um discurso em voz alta, creio ser preferível que o autor utilize outros sinais: sublinhados, mudanças de corpo ou de cor das letras, etc.