Em primeiro lugar, queremos manifestar o quanto estimamos as palavras de apoio dos nossos consulentes.
Retomemos os exemplos e acrescentemos outros:
a) Os homens aguardam que o garoto leve solene o copo de água até à boca.
b) Os homens aguardam que a garota leve afoita o copo de água até à boca.
c) O garoto aguarda que os homens levem solenes os copos de água até à boca.
d) Os homens solenes levam os copos até à boca.
e) Os homens passeiam solenes pelo jardim.
Solene e afoito têm a classificação morfológica de adjectivo – o que fica mais claramente evidenciado se fizermos variar estas palavras em género e em número.
As funções que os constituintes realizados por estes adjectivos desempenham na frase é que podem não ser as que tipicamente são atribuídas aos adjectivos.
Se não, vejamos.
Sabemos que, numa frase, para além da predicação principal – a realizada pelo verbo – podemos também verificar a existência de uma predicação secundária, realizável por um adjectivo. É isso que acontece com os verbos copulativos (O Zé está/continua/permanece doente), com os verbos transitivos-predicativos (O Zé achou a rapariga interessante) e quando há construções resultativas (O Zé tornou a aula interessante).
É justificado considerar que em a), b), c) e e) ocorre uma predicação secundária. Aliás, Evanildo Bechara1 classifica estes constituintes como «anexos predicativos».
Tal não invalida o valor de modificador adverbial do adjectivo. Este valor é mais visível quando o verbo for intransitivo [exemplo e)]. Mas será ainda mais notório se confrontarmos c) com d), onde toma assento a variação da posição do adjectivo: em d) a propriedade solene é inerente a homens [solene é aí plenamente um adjectivo, com função atributiva/de modificador nominal]; em c), a propriedade solene só se verifica na circunstância da ocorrência da acção levar – daí a verificação plena da função de modificador verbal.
1Bechara, Evanildo – 1999 – Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna: 443.