Em primeiro lugar, parece-nos que há um pequeno lapso na frase que nos apresenta, o que nos leva a propor a seguinte forma: «Ou este óleo se procura situar num momento anterior ao da [ao momento da] ruína das muralhas, ou a ruína não é levada à letra, uma vez que estas estão, aqui, intactas.»
Relativamente à questão que nos apresenta sobre o pronome demonstrativo mais adequado — «estas» ou «aquelas» para se referir a «muralhas», que, por sua vez, se encontra antes da última ocorrência da palavra «ruína» —, parece-nos que as duas formas são possíveis.
Tendo em conta que «os pronomes demonstrativos se empregam também para lembrar ao ouvinte ou ao leitor o que já foi mencionado ou que se vai mencionar» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 13.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 1997, p. 328), exercendo, assim, «a sua função anafórica (do grego anaphorikós = que faz lembrar, que traz à memória)», a escolha de um ou de outro demonstrativo deve respeitar os respectivos valores, «considerando-os nas suas relações com as pessoas do discurso» (idem, p. 329).
Assim, enquanto as formas «este(s), esta(s) e isto indicam o que está perto da pessoa que fala, [assim como] o tempo presente em relação à pessoa que fala» (idem), as formas «aquele(s), aquela(s) e aquilo denotam o que está afastado tanto da pessoa que fala como da pessoa a quem se fala, [evidenciando] um afastamento no tempo de modo vago, ou uma época remota» (idem, pp. 330-331).
A partir disto, e apesar de, à primeira vista, se ficar com a ideia de que a forma mais correcta será a utilização do pronome aquelas, verifica-se que há fundamentos para se poderem utilizar as duas formas, uma vez que:
a) Se tivermos em conta o espaço em que a palavra «muralhas» ocorre na frase, verificamos que se encontra numa «situação longínqua» em relação a «ruína»; o pronome aquelas representa esse distanciamento.
b) Se estivermos atentos ao tempo das muralhas, apercebemo-nos de que a frase termina com a referência de que elas «estão aqui, intactas», evidenciando uma situação/realidade presente, visível, o que aponta para o uso do pronome estas. Aliás, se analisarmos o valor dos pronomes este(s) e esta(s) — uma «situação mais próxima (a nível do espaço) e um tempo presente» (idem, p. 331) —, não teremos dúvidas de que esta é, de facto, a forma mais adequada a este caso.